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sábado, 9 de agosto de 2025

Escrito por em 9.8.25 com 0 comentários

Quarteto Fantástico (II)

Recentemente, estreou o filme do Quarteto Fantástico no MCU, sobre o qual eu provavelmente vou falar aqui no átomo, se algum dia eu fizer uma série de posts falando sobre a Fase 6. Esse já é o quinto filme do Quarteto, que, apesar de terem sido os primeiros super-heróis da Marvel nos quadrinhos, realmente não vinham dando sorte no cinema. A razão pela qual vocês estão lendo esse post, porém, é que, mesmo com grande parte da parcela mundial os considerando ruins, eu adoro os filmes do Quarteto Fantástico da Fox, especialmente o primeiro, que eu acho super divertido e bastante fiel aos quadrinhos - exceto o Dr. Destino, já que não tem cabimento o maior vilão da Marvel ganhar superpoderes e ainda assim ser tão patético. Por causa disso, depois que eu falei sobre os filmes dos X-Men, talvez influenciado pela estreia do novo, me deu vontade de falar sobre os do Quarteto também. Assim, hoje, mais uma vez, é dia de Quarteto Fantástico no átomo!

A primeira tentativa de se fazer um filme do Quarteto Fantástico ocorreria lá na década de 1980: em 1983, o produtor alemão Bernd Eichinger, dono da Constantin Film, iria até a casa de Stan Lee em Los Angeles negociar pessoalmente uma licença para a produção de um filme da equipe para o cinema. A negociação duraria três anos, e somente em 1986 a Constatin obteria a licença, por um valor que Eichinger descreveu como "não sendo enorme", e noticiado na época como 250 mil dólares, uma verdadeira pechincha. Com a tecnologia da época, entretanto, duplicar os poderes do Quarteto Fantástico em um filme seria caríssimo, e a Constatin preferiria negociar com um grande estúdio, cedendo os direitos em troca de participação na bilheteria. A Warner Bros. e a Columbia se diriam interessadas, mas ambas recuariam após o orçamento do filme ser calculado - segundo a Columbia, havia a possibilidade de o filme ser o mais caro de todos os tempos.

O contrato assinado entre a Marvel e a Constantin previa que, se o filme não entrasse em produção até 31 de dezembro de 1992, os direitos voltariam para a Marvel e a Constantin perderia o dinheiro já investido. Para que isso não acontecesse, Eichinger procuraria o famoso diretor de filmes B Roger Corman, que concordaria em produzir o filme com orçamento máximo de 1 milhão de dólares, e distribuí-lo através de sua empresa, a New Horizons Pictures. A produção começaria em 28 de dezembro de 1992, três dias antes do fim do prazo, com direção de Oley Sassone, que, até então, só havia dirigido videoclipes, e roteiro de Craig J. Nevius e Kevin Rock, contratados por Corman. O filme seria integralmente filmado nos estúdios da Concorde Pictures, em Venice, Califórnia, também de propriedade de Corman, exceto pela cena da queda da nave após o Quarteto ganhar seus poderes, filmada na cidade vizinha, Agoura; a cena da explosão do laboratório de Victor Von Doom, filmada na Universidade de Loyola-Marymount; e da cena final, filmada no antigo prédio da Pacific Stock Exchange, em Los Angeles.

Ao todo, as filmagens durariam apenas 21 dias - embora algumas fontes digam 25. Apesar da produção mambembe e a toque de caixa, tudo seria feito com muito cuidado: os figurinos ficariam a cargo do interessantemente chamado Réve Richards, que não conhecia o Quarteto, e, enquanto estava comprando dezenas de revistas em quadrinhos para usar como inspiração, deixaria escapar que estava trabalhando no filme, sendo cercado por fãs que queriam saber se ele seria fiel aos quadrinhos. O dublê Carl Ciarfalio, que vestia uma roupa de borracha para interpretar o Coisa, trabalharia junto ao ator Michael Bailey Smith, que interpretava Ben Grimm, para que seus maneirismos fossem os mesmos. Os efeitos de computação ficariam a cargo de Scott Billups e da empresa Optic Nerve, e a maquiagem ficaria a cargo de John Vulich e Everett Burrell. E os produtores musicais David e Eric Wurst pagariam 6 mil dólares do próprio bolso para que a trilha sonora contasse com uma orquestra de 48 instrumentos.

A data de estreia do filme seria inicialmente marcada para setembro de 1993, com trailers sendo exibidos nos cinemas em julho, mas nem a Constantin nem a New Horizons queriam gastar um centavo em publicidade, com os próprios atores decidindo pagar de seus bolsos para que o filme fosse discutido na Comic-Con de 1993, após a qual ele seria matéria de capa da revista Film Threat, e a data de "estreia mundial" seria confirmada pela Constantin como 19 de janeiro de 1994. No final de 1993, entretanto, os atores receberiam uma ordem judicial para parar de promover o filme, todos os negativos seriam confiscados pela Constantin, e Eichinger informaria Sassone que o filme jamais seria lançado. Várias publicações especializadas começariam a especular que, na verdade, a produção seria uma ashcan copy, um filme produzido sem nenhuma intenção de ser lançado, apenas para que o estúdio não perdesse os direitos. Somente em 2005 Lee confirmaria essa tese, dizendo numa entrevista que Eichinger o havia colocado a par do plano, dizendo que "ninguém jamais veria o filme", mas que, como Corman havia decidido não informar nem o elenco, nem a equipe, que acharam que haveria um lançamento, acabou acontecendo uma promoção jamais programada, o que tornou o "cancelamento" do lançamento mais escandaloso do que deveria ser.

No mesmo ano, Corman, em uma entrevista, desmentiria Lee, dizendo que o contrato que assinou previa o lançamento nos cinemas, mas também previa que ele teria de vender o filme para Eichinger caso ele pagasse o valor da produção, o que o produtor fez no final de 1993, deixando Corman sem escolha. Eichinger, por sua vez, culparia Avi Arad, na época diretor executivo da Marvel, que, temendo que o filme fosse uma bomba e isso afetasse as vendas dos quadrinhos do Quarteto, já extremamente baixas na época, teria dado a Eichinger o dinheiro para que ele comprasse o filme de volta, e ordenado que ele destruísse todos os negativos. Arad não somente confirmaria essa versão, como também diria que, até um fã abordá-lo na rua em 1993 e dizer estar aguardando ansiosamente a estreia, não estava sabendo que um filme do Quarteto estava sendo produzido, que jamais assistiu a esse filme para saber se ele era bom ou não, e que pagou Eichinger em dinheiro vivo. Muitas dessas histórias estariam no documentário Doomed!: The Untold Story of Roger Corman's The Fantastic Four, que fala sobre a produção do filme, lançado diretamente em home video em 2015.

Pelo menos uma cópia do filme sobreviveria, porém, sendo exibida para uma plateia seleta em Los Angeles em 31 de maio de 1994, e podendo ser encontrada no YouTube, no Daily Motion e em torrents. Críticos que viram o filme diriam que, realmente, ele era bem ruim, mas por lembrar uma novela de baixo orçamento com atores iniciantes, não por problemas da produção ou do roteiro. Segundo alguns críticos, com um orçamento maior e um elenco mais experiente, o filme poderia até mesmo ter sido um grande sucesso. No filme, o Quarteto ganha seus poderes ao ser exposto a raios cósmicos durante uma viagem para estudar um cometa, sem saber que sua nave não tinha a proteção adequada devido à remoção de um diamante, que acaba sendo o ponto central da história, já que o Dr. Destino quer usá-lo para energizar um canhão laser que destruirá a cidade de Nova Iorque. O elenco conta com Alex Hyde-White como Reed Richards / Sr. Fantástico, Rebecca Staab como Susan Storm / Mulher Invisível, Jay Underwood como Johnny Storm / Tocha Humana, Michael Bailey Smith como Ben Grimm, Carl Ciarfalio como o Coisa, Joseph Culp como Victor Von Doom / Dr. Destino, Kat Green como Alicia Masters, e Ian Trigger como o vilão Joalheiro, que rouba o diamante da nave do Quarteto - vale citar também Mercedes McNab, posteriormente famosa pelas séries Buffy, a Caça-Vampiros e Angel, que interpreta Sue Storm quando criança.

Retendo os direitos, e com os efeitos especiais ficando mais realísticos e mais baratos a cada ano que se passava, Eichinger seguiria com a intenção de fazer um filme do Quarteto de grande orçamento e com elenco famoso, conseguindo assinar um contrato de financiamento com a Fox em 1995. A Fox conversaria com os diretores Chris Columbus, Peyton Reed e Peter Segal; Columbus seria contratado ainda em 1995, escrevendo um roteiro em parceria com Michael France, mas, em 1996, decidiria deixar o cargo de diretor e ficar apenas como produtor, conseguindo um acordo para que o filme fosse co-produzido pela Constantin e pela 1492 Pictures, da qual Columbus era o dono. Segal concordaria em substituí-lo, sendo contratado em abril de 1997, mas "diferenças criativas" fariam com que ele deixasse o projeto no fim do ano, sendo substituído por Sam Wiseman. Em 1998, a Fox contrataria o roteirista Sam Hamm para reescrever o roteiro de Columbus e France, estimado em 165 milhões de dólares, um absurdo na época.

Pelos termos do contrato original assinado por Eichinger, o "segundo" filme do Quarteto teria que ser produzido até 31 de dezembro de 1999, ou os direitos voltariam para a Marvel; seria em 1999, porém, que ocorreria o já famoso leilão dos personagens da Marvel para os grandes estúdios de cinema, o que daria a Eichinger uma oportunidade: ele abriria mão dos direitos, desde que seguisse como produtor do filme, que seria co-produzido pela Constantin, para que a Fox arrematasse o Quarteto Fantástico no leilão, conseguindo, assim, uma extensão do prazo. Após fazer isso, a Fox daria início à pré-produção do filme, estabelecendo julho de 2001 como data de estreia e contratando Raja Gosnell como diretor. Gosnell, entretanto, deixaria o projeto em outubro de 2000, para dirigir Scooby-Doo, e Reed seria contratado em abril de 2001, trazendo com ele o roteirista Mark Frost, para uma nova revisão. Reed deixaria o projeto em 2003, alegando que a Fox não gostava de nenhuma de suas ideias; segundo ele, várias dessas ideias seriam reaproveitadas para Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, de 2023.

Ao saber que Reed havia pedido demissão, o ator Sean Astin (o Sam de O Senhor dos Anéis) se ofereceria para o cargo; mesmo sem nunca ter dirigido um longa-metragem, e assumindo não conhecer os quadrinhos do Quarteto, ele queria se lançar como diretor, e achava que o filme do Quarteto poderia ser uma catapulta para essa carreira. Astin chegaria a conversar com a Fox - e uma de suas ideias era escalar Christina Aguilera como Sue Storm - mas sua falta de experiência acabariam fazendo com que os executivos do estúdio temessem um fracasso. Outra curiosidade é que o favorito da Fox para interpretar o Dr. Destino era Robert Downey Jr., descartado após pesquisas com grupos de opinião mostrarem que ele ainda tinha má fama devido a seus problemas com drogas no final dos anos 1990.

Em abril de 2004, Tim Story seria oficialmente anunciado como diretor, após a Fox saber que ele era fã dos quadrinhos do Quarteto, e alguns executivos do estúdio se impressionarem com Taxi. Após assistir Os Incríveis, Story pediria que Simon Kinberg, que não seria creditado, reescrevesse partes do roteiro, que ele estava achando muito parecidas com o filme da Disney. Após essa nova revisão, tudo finalmente estaria pronto para o filme entrar em produção, co-produzido pela Constantin Films, 20th Century Fox, Marvel Enterprises e 1492 Pictures, com Eichinger, Arad e Ralph Winter como produtores, roteiro creditado a France e Frost, e orçamento final de 90 milhões de dólares.

O filme tenta ser o mais fiel possível aos quadrinhos, mas erra em colocar Von Doom na nave que é atingida por raios cósmicos e dá poderes ao Quarteto; ao voltar para a Terra, enquanto Johnny se torna uma celebridade e Sue passa por momentos constrangedores com sua invisibilidade, Reed decide devotar todo seu tempo a criar uma máquina que extraia os raios cósmicos do Coisa - que engata um romance com a escultora cega Alicia - para que ele possa voltar a ser Ben Grimm. Paralelamente a isso, a pele de Von Doom começa a descascar, revelando uma estranha segunda pele metálica, e ele descobre ser capaz de lançar raios elétricos pelas mãos; suas empresas começam a perder milhões devido à falha na missão que deu os poderes ao "quinteto", e, culpando Reed, ele bola um plano para usar sua inteligência, seu dinheiro e seus novos poderes para destruí-lo. O elenco conta com Ioan Gruffud como Reed Richards, Jessica Alba como Sue Storm, Chris Evans como Johnny Storm, Michael Chiklis como Ben Grimm, Julian McMahon como Victor Von Doom, e Kerry Washington como Alicia Masters. Exceto por Von Doom, que, no final do filme, passa a se referir a si mesmo como Destino (sem o "Doutor"), nenhum dos personagens usa os codinomes dos quadrinhos no filme, com os nomes Sr. Fantástico, Mulher Invisível, Tocha Humana e Coisa sendo usados sempre em contextos satíricos. Stan Lee faz uma participação como o carteiro Willie Lumpkin, personagem recorrente nas histórias do Quarteto.

A escalação do elenco seria bastante questionada, com Gruffud e Evans sendo considerados muito crus para seus personagens, McMahon sendo considerado muito canastrão, e duas questões raciais: Alba, descendente de dinamarqueses, galeses, alemães e franceses por parte de mãe, mas de mexicanos por parte de pai, e vista nos Estados Unidos como latina, seria alvo da ira de fãs que não se conformaram com sua escolha para interpretar a loura de olhos azuis Sue, e debocharam quando as primeiras imagens do filme mostraram que ela havia tingido o cabelo e estava usando lentes de contato; Washington, que é negra, receberia críticas semelhantes, já que Alicia, nos quadrinhos, é branca. Em versões preliminares do roteiro, o pai de Alicia, o vilão Mestre dos Bonecos, também estaria no filme, assim como o Homem-Toupeira, cujo ataque faria com que o Quarteto agisse pela primeira vez como uma equipe, mas as revisões removeriam esses personagens para que o antagonismo ficasse todo com Destino.

As filmagens ocorreriam majoritariamente no Canadá, nas cidades de Surrey, Toronto e Vancouver, com a Universidade da Columbia Britânica sendo um dos locais onde foram gravadas mais cenas; algumas cenas seriam gravadas em Nova Orleans, Estados Unidos, mas, curiosamente, nenhuma seria filmada em Nova Iorque, onde o filme é ambientado. Os efeitos especiais ficariam a cargo das empresas Giant Killer Robots, Meteor Studios, SW Digital, Soho VFX e Pixel Magic; ainda temendo que o filme pudesse ser comparado a Os Incríveis, Story pediria por um aumento no número de cenas com efeitos especiais em relação ao inicialmente previsto, o que aumentaria o orçamento em cerca de 15 milhões de dólares. Ele faria, entretanto, uma exigência no sentido contrário: Story não queria que o Coisa fosse um personagem digital, como o Hulk do filme de 2003, e optaria por uma roupa de borracha vestida por Chiklis e aprimorada na pós-produção, criada pela empresa Spectral Motion, responsável também por outras maquiagens e próteses do filme, como a pele metálica de Destino.

Quarteto Fantástico estrearia em 8 de julho de 2005, em 3602 salas apenas nos Estados Unidos - número que aumentaria para 3619 na semana seguinte, devido à grande procura - e seria um grande sucesso de público, rendendo 56 milhões de dólares apenas no primeiro fim de semana e 154,7 milhões no total considerando apenas os Estados Unidos - somando o resto do planeta, a bilheteria total seria de 330,6 milhões, tornando-o o filme mais rentável a ser dirigido por um afro-americano até ser ultrapassado por Pantera Negra em 2018. A crítica, por outro lado, o colocaria abaixo dos cachorros, considerando o elenco fraco (com Chiklin sendo o maior destaque, "mesmo soterrado em maquiagem") o roteiro bobo e o final decepcionante; muitos críticos chegaram a dizer que ele era mais um filme B do Quarteto, e que, comparado aos do Homem-Aranha e dos X-Men, parecia "algo esquecido dos anos 1960". Curiosamente, ao longo dos anos, principalmente após o lançamento do filme de 2015, o filme passaria a ter críticas mais favoráveis, embora nunca seja considerado um sucesso.

Outra curiosidade é que, para o lançamento em home video, a Fox alteraria duas cenas do filme, uma na qual Reed e Sue estão no depósito do Edifício Baxter, e, em uma das estantes, pode ser visto o robô H.E.R.B.I.E., que não estava lá nos cinemas, e outra na qual Reed e Sue discutem seu relacionamento, que ficou completamente diferente: nos cinemas, o casal está olhando para a Estátua da Liberdade, mas, em home video, eles estão em um planetário e, ao invés de mudar seu rosto para ficar com o queixo quadrado, Reed imita o rosto de Wolverine. Segundo a Fox, essa cena buscava mostrar que os filmes do Homem-Aranha, dos X-Men e do Quarteto eram ambientados no mesmo universo, com Hugh Jackman indo ao set de filmagens e gravando-a durante a produção; quando uma participação de Jackman como Wolverine em Homem-Aranha 2 foi cancelada, a Fox decidiu remover a cena do filme do Quarteto, gravando a nova com Gruffud e Alba durante a pós-produção, mas depois voltaria atrás e decidiria incluí-la no home video.

Aqui no Brasil, a versão em DVD e Blu-ray é idêntica à dos cinemas, com a cena com Jackman estando presente apenas na "Versão do Diretor", lançada apenas em DVD em 2007. Essa versão traz 20 minutos a mais de cenas originalmente descartadas, nenhuma delas relevante para a história, mas que aprofundam o relacionamento do Coisa com Alicia, mostram estratagemas de Von Doom para separar a equipe, e que o comportamento irresponsável de Johnny nem sempre sai impune.

Mesmo com o fracasso de crítica, a Fox daria a luz verde para uma sequência, aproveitando que os seis atores do elenco principal, mais o diretor Story e o roteirista Frost, tinham todos assinado contrato para três filmes. Frost queria que o filme contasse com dois dos mais famosos personagens das histórias do Quarteto, Galactus e o Surfista Prateado, mas, conhecendo pouco das histórias clássicas da equipe, pediria para que a Fox contratasse um co-roteirista, com o escolhido sendo Don Payne, famoso por ser roteirista da série Os Simpsons, mas que era fã do Quarteto, e decidiu basear o filme em três histórias: a trilogia de Galactus, um arco no qual o Dr. Destino rouba os poderes do Surfista Prateado, e a saga Extinção Suprema, da linha Ultimate. Payne também incluiria no filme o Fantasticarro, e cuidaria para que Alicia tivesse uma participação maior no segundo filme do que teve no primeiro.

Apesar de muita gente achar que o Surfista Prateado era um personagem totalmente digital, Story mais uma vez pediria para que ele, assim como o Coisa, fosse um efeito prático aprimorado. Assim, o Surfista seria interpretado pelo ator Doug Jones vestindo uma roupa prateada especialmente confeccionada pela Spectral Motion, aprimorada na pós-produção pela Weta Digital. Nas primeiras versões do roteiro, o Surfista era mudo, não proferindo uma única palavra durante todo o filme, mas os executivos da Fox não gostaram dessa ideia, pedindo para que ele tivesse diálogos e fosse dublado pelo ator Lawrence Fishburne; segundo boatos, durante as filmagens Jones não sabia que seria dublado, interpretando todas as falas como se sua voz fosse ser usada, somente descobrindo que o Surfista teria a voz de Fishburne ao ler uma matéria sobre o filme em uma revista.

Frost e Payne queriam que Nick Fury estivesse no filme, e convidaram o ator Andre Braugher para interpretá-lo, o que faria com que ele saísse da série ER: Plantão Médico, já que não conseguiria conciliar as filmagens da série com as do filme. Ao contrário do que os roteiristas imaginaram, entretanto, a Fox não tinha os direitos sobre Fury, e a Marvel, já pensando em usá-lo em produções futuras, se recusaria a cedê-los, o que faria com que o personagem de Braugher fosse mudado para o General Hager, um antigo conhecido de Reed, mas com a exata mesma função que Fury teria - algumas falas de Hager no filme, inclusive, são idênticas a falas de Fury em Extinção Suprema.

As filmagens começariam em agosto de 2006 em Vancouver, onde seriam gravadas a maior parte das cenas; outras cidades canadenses nas quais ocorreram filmagens seriam Pemberton e Burnaby. Após críticas ao primeiro filme, a Fox decidiria gravar também algumas cenas em Nova Iorque, chegando a fechar o famoso Lincoln Tunnel para filmá-las. Cenas internacionais seriam gravas na Baía de Suruga, Japão, em Gizé, no Egito, e na Geleira de Russell, na Groenlândia. Além da Spectral Motion e da Weta, trabalharim nos efeitos digitais nada menos que outras 25 empresas, incluindo Hydraulx, The Orphanage, Giant Killer Robots, Hammerhead Productions e Lola Visual Effects. O aumento no número de efeitos especiais e as locações internacionais também aumentariam para 130 milhões de dólares o orçamento final do filme, que seria uma co-produção entre Constantin Film, 20th Century Fox, Marvel Entertainment, 1492 Pictures, Ingenious Film Partners e Dune Entertainment.

A roupa do Coisa seria refeita para que tivesse uma melhor ventilação e para que Chiklis conseguisse tirá-la sozinho nos intervalos das gravações, e um episódio durante as filmagens viraria manchete por motivos inusitados: em uma cena na qual Sue chora, Story teria dito a Alba que a cara dela estava muito feia, e pedido para que ela "chorasse mais bonita", acrescentando que não havia problema se não houvesse lágrimas, pois elas poderiam ser incluídas por computação gráfica na pós-produção. A atriz daria uma entrevista se dizendo horrorizada com o comentário, e que chegaria a questionar se deveria seguir atuando depois disso; o diretor, por outro lado, diria que foi tudo um mal-entendido, e que ele tinha achado que a cena havia ficado "muito real e muito dolorosa para um filme para toda a família", e que sua intenção era que Alba a fizesse mais suave.

Outro incidente bizarro envolvendo o filme foi que a Fox fez um acordo com a Franklin Mint, empresa privada localizada no estado da Pensilvânia que tem um contrato com o governo para fabricar moedas, para que um lote de 40 mil moedas de 25 cents, ao invés de trazerem no verso (o lado da "cara") sua figura tradicional, trouxessem o Surfista Prateado em sua prancha e a URL do site oficial do filme. As moedas foram fabricadas, entraram em circulação em maio de 2007, e logo se tornaram cobiçados itens de colecionador, mas, poucos dias depois, a Franklin Mint seria notificada pela U.S. Mint, órgão do governo que cuida da fabricação de moedas e cédulas em todo o território dos Estados Unidos, de que existe uma lei federal que proíbe "transformar dinheiro encomendado oficialmente pelo governo em propaganda de empresas privadas". A U.S. Mint, contudo, jamais aplicou qualquer punição à Franklin Mint, e essas moedas, se ainda estiverem em circulação, possuem valor legal de 25 cents normalmente.

Apesar de a Fox ter reservado a data de estreia para julho de 2007, em março de 2007 a aparência final de Galactus ainda não estava definida. A Weta chegaria a criar um humanoide de 30 metros de altura, que poderia receber a face de qualquer ator que fosse contratado para interpretar o Devorador de Planetas, ou uma máscara, para que não tivesse face alguma, mas os executivos da Fox acharam que "um gigantão aparecendo no meio de Nova Iorque para comer o planeta" deixaria mais uma vez a produção com cara de filme B, e exigiriam que Galactus não fosse uma pessoa, mas "uma força da natureza". A Weta, então, optaria por fazê-lo como uma tempestade cósmica com uma sombra que lembrasse vagamente o capacete do Galactus dos quadrinhos, e o roteiro seria alterado para que ela jamais alcançasse a Terra, sendo detida ainda no espaço. Essa seria uma das principais reclamações dos fãs, que prefeririam ver mesmo o gigantão comendo o planeta.

No filme, Reed e Sue estão prestes a se casar quando o governo entra em contato com o cientista, pedindo sua ajuda para identificar um misterioso objeto no espaço que ruma em alta velocidade para a Terra. Esse objeto é nada menos que o Surfista Prateado, que está guiando Galactus até o planeta para que ele o devore. Sem saber desse fato e imaginando que o Surfista é uma ameaça cósmica, o Quarteto passa a trabalhar em conjunto com Destino para detê-lo, até o vilão roubar os poderes do Surfista para si e o alienígena revelar que ele não é a verdadeira ameaça. A missão do Quarteto, então, passa a ser recuperar os poderes do Surfista antes que Destino os use para destruí-los, e usá-los para encontrar uma forma de interromper a trajetória de Galactus antes que a Terra seja destruída.

Do primeiro filme retornam Gruffud, Alba, Evans, Chiklis, McMahon e Washington, se unindo a eles Doug Jones como o Surfista Prateado, Laurence Fishburne como a voz do Surfista Prateado, Andre Braugher como o General Hager, e Beau Garrett como Frankie Raye - que, no filme, é capitã do exército, mas nos quadrinhos era uma intérprete da ONU que teve um namoro com Johnny e foi transformada por Galactus em uma arauto chamada Nova, para substituir o Surfista em sua missão de encontrar planetas para o Devorador. Participações especiais incluem Brian Posehn como o celebrante do casamento de Reed e Sue; Vanessa Minnillo como a acompanhante de Johnny para o casamento; Zach Grenier como o Sr. Sherman; e Patricia Harras como a recepcionista do prédio do Quarteto, Roberta. Stan Lee faz uma participação como um convidado barrado no casamento.

Com o nome de Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado (Fantastic Four: Rise of the Silver Surfer, no original), o filme estrearia em 15 de julho de 2007 e seria mais uma vez um sucesso de público - renderia 58 milhões de dólares apenas no primeiro fim de semana, dois a mais que o anterior, mas, no total, renderia menos que o primeiro: 131,9 milhões nos Estados Unidos, 301,9 milhões quando somado o mundo inteiro. A crítica seria levemente mais favorável, considerando-o melhor que seu antecessor, mas ainda com pouco a oferecer além de seus efeitos especiais.

Pouco após a estreia, Story teria uma reunião com os executivos da Fox para discutir ideias para um terceiro filme, sugerindo a introdução de Franklin Richards, a transformação de Raye em Nova, e uma participação do Pantera Negra, indicando o ator Djimon Hounsou para o papel. Payne, em uma entrevista, diria não ter conversado nada com a Fox, mas que o universo do Quarteto era vasto de possibilidades para um terceiro filme, que poderia incluir os Inumanos, os Skrulls, e até mesmo o Aniquilador e a Zona Negativa. Conforme a bilheteria do segundo filme se mostrava inferior à do primeiro, entretanto, Story começaria a sentir que a Fox relutava em dar a luz verde para a sequência, até que, em dezembro de 2007, o estúdio declararia que não estava buscando um roteiro no momento. Em uma entrevista de 2008, Evans diria que nada de oficial foi comunicado, mas que o elenco sabia que o segundo filme havia sido o último.

Em agosto de 2009, a Fox anunciaria sua intenção de fazer um reboot do Quarteto Fantástico, contratando o produtor Akiva Goldsman e o roteirista Michael Green. Goldsman queria um elenco estelar, e chegaria a conversar com Adrien Brody e Jonathan Rhys Meyers para o papel de Reed Richards, e considerar Kiefer Sutherland para o de Ben Grimm. Em 2011, alegando que Green era incapaz de escrever um roteiro que o agradasse, Goldsman decidiu contratar Zack Stentz e Ashley Edward Miller, de X-Men: Primeira Classe para escrever um novo, e começar a procurar um diretor. Devido a seu trabalho em Poder sem Limites, Josh Trank seria contratado em julho de 2012, junto com o roteirista Jeremy Slater, que traria ideias ousadas, como abrir o filme com a chegada de Galactus e fazer de Von Doom um espião da Latvéria morando nos Estados Unidos, que conseguiria enganar Galactus para se tornar seu novo arauto, e terminaria o filme usando os poderes concedidos pelo Devorador para se tornar ditador de seu país natal.

Trank rejeitaria todas as ideias de Slater, que reclamaria que o diretor dizia para todo mundo que era fã do Quarteto, mas, para ele, havia confessado que jamais havia lido os quadrinhos, somente assistido ao desenho produzido para a Fox em 1994, e que não tinha interesse em dirigir um filme de super-heróis convencional, achando impossível se identificar com as situações que ocorriam nos quadrinhos. Trank decidiria escrever o roteiro ele mesmo, e acabaria isolando Slater, retendo todas as informações que o estúdio passava para a dupla, até o roteirista se demitir no final de 2012. No início de 2013, a Fox demitiria também Goldsman, trazendo Matthew Vaughn para substituí-lo e Seth Grahame-Smith para "polir" o roteiro de Trank. Em outubro de 2013, achando que o projeto já estava muito atrasado, o estúdio traria também Simon Kinberg, para ser co-produtor e co-roteirista, e tentar agilizar a produção.

Em uma entrevista no final de 2013, Trank diria que o filme teria uma "grande influência" de David Cronenberg, especialmente das obras Scanners: Sua Mente Pode Destruir e A Mosca, e que planejava fazer "uma mistura de Steven Spielberg com Tim Burton". Ele também optaria por um elenco mais jovem, convidando Michael B. Jordan, com quem havia trabalhado em Poder sem Limites para interpretar Johnny Storm - como Jordan é negro, logo começariam as discussões sobre se Sue também seria negra ou se Johnny seria adotado, com as expectativas sendo subvertidas após o anúncio de Reg E. Cathey para o papel do Dr. Storm, pai de Sue e Johnny, e de Kate Mara para o de Sue, o que indicava que ela é que seria a adotada. A escalação de Jordan seria justificada por Trank como "uma forma de fazer com que a adorada equipe dos quadrinhos ficasse mais fiel à demografia do mundo real", mas causaria revolta entre os fãs, com o diretor chegando a receber ameaças de morte, e revelando em entrevistas que dormia com um revólver 38 na mesa de cabeceira, que teria devolvido à loja ao final da produção. Trank também diria em entrevistas que discutiu com a Fox para que não somente Johnny, mas também Sue e um eventual Franklin Richards em um segundo filme fossem negros, com os executivos do estúdio sendo inflexíveis quanto a "manter a etnia de Sue". Ele também diria ter pensado em abandonar o projeto após não conseguir uma Sue negra, mas que teria decidido tocá-lo até o final sem aceitar a renovação para um segundo filme caso fosse proposta.

Reed, Ben e Von Doom também seriam interpretados por atores jovens; achando "Von Doom" um nome ridículo (embora seja um sobrenome que existe no mundo real), Trank mudaria o nome do personagem para Victor Domashev, com "Dr. Doom" sendo um apelido que Sue deu a ele por ser muito pessimista. Essa mudança também causaria revolta entre os fãs, mas, como não foi amplamente divulgada, só foi descoberta pela maioria nos cinemas, ao assistir o filme. Diante da repercussão negativa, a Fox chamou os atores de volta para regravar algumas cenas e redublar outras, para que o nome do personagem voltasse a ser Victor Von Doom. Como algumas cópias já haviam sido vendidas para o mercado internacional antes disso, ele acabou sendo Domashev em alguns países - incluindo aqui no Brasil; eu me lembro que tomei um susto no cinema, e foi a primeira coisa que comentei no Twitter quando cheguei em casa, que tinham mudado o nome do Dr. Destino.

Pela primeira vez, o Coisa seria um personagem totalmente digital, ficando até bem diferente dos quadrinhos, já que a Fox não queria "um humano gigante de pedra, e sim uma criatura que lembrasse uma pedra viva". Também diferentemente dos outros filmes, o Coisa nesse é pelado - mas, felizmente, não tem genitais aparentes. A criação do Coisa ficaria a cargo da empresa Moving Pictures Company, que também cuidaria das chamas do Tocha Humana; os efeitos elásticos de Reed ficariam a cargo da Weta. Outras empresas que trabalhariam no filme seriam a Pixomondo, responsável pelos poderes de Sue e do Dr. Destino, e a Rodeo FX. A Fox planejava converter o filme para 3D durante a pós-produção, mas Trank foi terminantemente contra, alegando que desejava que o filme ficasse "o mais puro possível para as plateias".

Querendo um filme mais grandioso que os dois anteriores, a Fox reservaria um orçamento de 155 milhões de dólares, e determinaria que as filmagens ocorressem no estado da Louisiana, devido a isenções fiscais que permitiriam que sobrasse mais desse dinheiro para outras coisas. Durante as filmagens, que começariam em maio de 2014, Hutch Parker (que acabaria não creditado) e Kinberg, sem o conhecimento de Trank, reescreveriam o roteiro e mudariam várias coisas das quais os executivos da Fox não haviam gostado, mudando, inclusive, o final. Ao ver a primeira versão editada, a Fox exigiria mais mudanças, alegando que o filme parecia uma continuação de Poder sem Limites, o que levaria aos atores serem chamados para gravar novas cenas em janeiro de 2015. O final seria mudado tantas vezes que acabaria sendo uma colagem de cenas das versões originais do roteiro com outras escritas por Kinberg enquanto elas estavam sendo gravadas; Trank daria várias sugestões para o final, todas ignoradas pela Fox.

Trank, evidentemente, ficaria extremamente irritado com as mudanças, que, segundo ele, mexeram em pontos centrais de sua história, descaracterizando totalmente o filme; o diretor acabaria renegando o filme, jamais o incluindo em sua filmografia oficial - nem mesmo editar o filme após a primeira edição a Fox permitiria que Trank fizesse, com a edição final ficando a cargo de Stephen E. Rivkin, que Trank diria ser "o verdadeiro diretor do filme". Ainda segundo Trank, uma "versão do diretor" seria impossível, já que muitas das cenas originalmente escritas por ele sequer seriam filmadas, e outras seriam destruídas após a segunda edição; o ator Toby Kebbell declararia em entrevistas que a primeira edição era muito melhor que a versão final, mas que ninguém jamais iria vê-la. Kate Mara também reclamaria após a estreia do filme, dizendo que cada refilmagem o deixava pior, e lamentando que ela não teve coragem de se opor às mudanças cada vez que o estúdio a chamava novamente.

Na versão final do filme, Reed é um jovem e talentoso cientista que, desde a adolescência, trabalha em um projeto de teletransporte com seu amigo Ben. Ele acaba chamando a atenção do Dr. Storm, que o contrata para um de seus projetos, onde ele trabalhará com sua filha adotiva, Sue, e seu jovem protegido Victor - seu filho Johnny é um bon vivant que só quer saber de gastar dinheiro e irritar o pai. O projeto do Dr. Storm visa se teleportar não para outro local da Terra, mas para uma dimensão paralela que ele chama de Planeta Zero (e que seria equivalente à Zona Negativa dos quadrinhos). Reed e Victor imaginam que estarão dentre os escolhidos para a primeira viagem, mas a NASA, que financia o projeto, decide mandar astronautas experientes; assim, Reed, Victor, Johnny e Ben, muito inteligentemente, decidem invadir o laboratório na calada da noite e fazer a primeira viagem por conta própria - e, evidentemente, dá tudo errado, eles têm de ser salvos por Sue, e Victor fica preso no Planeta Zero. Após retornarem, os três descobrem que manifestaram estranhos poderes, e até passaram alguns para Sue; Reed se torna um fugitivo, caçado pelo governo, enquanto Ben e os irmãos Storm se tornam cobaias de inúmeros testes. Mas os quatro têm de se unir quando Victor retorna, também com superpoderes e querendo vingança por ter sido deixado para trás.

O elenco conta com Miles Teller como Reed Richards / Sr. Fantástico, Michael B. Jordan como Johnny Storm / Tocha Humana, Kate Mara como Sue Storm / Mulher Invisível, Jamie Bell como Ben Grimm / o Coisa, Toby Kebbell como Victor Von Doom / Dr. Destino, Reg. E. Cathey como o Dr. Franklin Storm, e Tim Blake Nelson como o Dr. Harvey Allen, que trabalha para a NASA no projeto do Dr. Storm - Harvey Allen, nos quadrinhos, é o nome do Homem Toupeira, um indicativo de que ele também poderia ganhar poderes no Planeta Zero e se tornar o vilão do segundo filme. Dan Castellaneta faz uma participação especial como um professor de Reed; os pais de Reed são interpretados por Tim Heidecker e Mary Rachel Dudley; e Chet Hanks interpreta o irmão mais velho e abusivo de Ben, Jimmy Grimm.

Com roteiro creditado a Trank, Slater e Kinberg, co-produzido por Vaughn, Kinberg, Gregory Goodman, Hutch Parker e Robert Kulzer, oficialmente uma co-produção entre 20th Century Fox, Constantin Film, Marvel Entertainment, Marv Films, Kinberg Genre, TSG Entertainment e Moving Picture Company, e com o bizarro nome original de Fant4stic Four, Quarteto Fantástico (que aqui no Brasil não tem número nenhum no título) estrearia em 4 de agosto de 2015 e seria um imenso fracasso de publico e crítica. Nas bilheterias, ele renderia apenas 56,1 milhões nos Estados Unidos e 167,9 milhões ao somar o mundo inteiro, dando prejuízo para a Fox; a crítica o consideraria insosso e triste, e uma tentativa equivocada de se adaptar para um filme de super-heróis cínicos uma equipe que sempre foi famosa nos quadrinhos pelo clima de família. Até mesmo os efeitos especiais seriam considerados sem imaginação e abaixo da média se comparados a outros filmes de super-heróis da época.

Até o lançamento do filme, a Fox planejava fazer uma sequência, que estrearia em 2017, com os cinco atores principais tendo assinado para dois filmes; a baixa bilheteria, as críticas pesadas e, principalmente, as baixas vendas do home video - que alguns executivos da Fox ainda tinham esperança de salvar a situação - levariam o estúdio a suspender a produção por tempo indeterminado - oficialmente, ela ainda seria feita, só não se sabia quando. Vaughn diria em entrevistas estar disposto a dirigir um novo reboot, com o mesmo elenco ou não, para desfazer a má impressão deixada pelo último filme. Tudo isso deixaria de ser relevante, porém, em março de 2019, quando a Disney comprou a Fox e os direitos sobre o Quarteto Fantástico voltaram para os Marvel Studios, que finalmente puderam colocá-los no Universo Cinematográfico Marvel. Mas isso, como eu disse lá no primeiro parágrafo, é assunto para outro post.
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segunda-feira, 24 de março de 2014

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Desenhos Marvel (III)

Há coisa de um ano, fui fazer um post sobre o desenho The Marvel Super Heroes, me empolguei, e acabei falando sobre todos os desenhos com heróis Marvel produzidos nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Mais tarde, como alguns dos desenhos com heróis Marvel da década de 1990 estão dentre os meus preferidos, resolvi fazer uma segunda parte falando sobre esses também. Embora eu também goste de alguns dos produzidos na década de 2000, não havia me empolgado o suficiente para uma terceira parte, de modo que a série tinha acabado por ali.

Até agora. Não sei se foi porque já se passou um ano e meu subconsciente disparou algum alarme, mas outro dia eu me peguei pensando que poderia fazer um terceiro post falando sobre os desenhos Marvel da década de 2000 - que, afinal, também são legais, e nem são tantos assim. Diante disso, ei-lo!

A década de 2000 começaria como a de 1990: com um desenho dos X-Men. Chamado X-Men Evolution, ele seria uma parceria da Marvel não com a Fox, mas, curiosamente, com a Warner (dona da DC, rival da Marvel), e teria dois propósitos: aproveitar a popularidade trazida pelo filme dos X-Men, lançado no mesmo ano, e apelar ao público infanto-juvenil. Por causa disso, diferentemente do desenho da Fox, que trazia uma equipe adulta, em X-Men Evolution quase todos os X-Men eram adolescentes.

A série seria criada por Robert N. Skir e Marty Isenberg, que queriam trazer de volta o clima das histórias originais dos X-Men, lá da década de 1960, na qual eles eram adolescentes ainda tentando controlar seus poderes. Por causa disso, no início, X-Men Evolution é ambientado em um mundo no qual os mutantes ainda não são de conhecimento público, e se escondem em meio às pessoas normais. Nesse cenário, os X-Men são os alunos do Professor Charles Xavier, ele mesmo um mutante, que deseja ensiná-los a controlar seus poderes e usá-los para o bem da humanidade. Além de estudarem sob a tutela de Xavier, os X-Men também frequentam uma escola regular, e possuem atividades próprias de todo adolescente, como praticar esportes e passear no shopping.

No início da série, a equipe dos X-Men é composta apenas por Tempestade, Wolverine (que não são adolescentes e também atuam como professores), Ciclope e Jean Grey. Nos primeiros episódios, Noturno, Kitty Pride, Spyke (um personagem novo criado especialmente para a série, sobrinho de tempestade e com o poder de criar protusões ósseas de seu corpo) e Vampira também se unem à equipe. Vampira, aliás, é uma espécie de vira-casaca, já que, antes de se unir aos X-Men, fazia parte da "equipe rival", a Irmandade, um grupo de mutantes com poderes bizarros que acredita não ter lugar na sociedade, e acha que a história de que os X-Men têm de se integrar a ela e protegê-la é uma grande besteira. A Irmandade é liderada secretamente por Magneto - que só se revela como seu líder no último episódio da primeira temporada - e abertamente por Mística - que, sem que ninguém saiba, também é a diretora da escola regular onde estudam os X-Men. Seus outros membros são Grouxo, Avalanche, Blob e Mercúrio.

O sucesso da primeira temporada daria origem a uma segunda, que traria muitos outros mutantes dos quadrinhos para a série, como o Fera, que se tornaria mais um professor; a Feiticeira Escarlate, que também se uniria à Irmandade; e até mesmo uma versão da equipe Novos Mutantes. A partir do final da segunda temporada, o desenho começaria a ficar mais sério, com os mutantes sendo revelados ao público em geral, que os trataria com desconfiança e preconceito. Na terceira temporada, portanto, os episódios trariam histórias mais ao estilo tradicional dos X-Men, que têm de proteger uma sociedade que os odeia. Aparentemente isso não agradou muito ao público, já que a audiência começou a cair; ainda assim, seria produzida uma quarta temporada, de apenas nove episódios, na qual o vilão principal era não Magneto, mas Apocalipse. A quarta temporada termina com um final de certa forma aberto, que pode anteceder um futuro sombrio caso os X-Men não triunfem.

No geral, X-Men Evolution seria extremamente bem sucedida, e se tornaria a terceira série animada mais longa da Marvel, com um total de quatro temporadas e 52 episódios (ficando atrás dos desenhos da Fox do Homem-Aranha, que teve 65 episódios, e dos X-Men, que teve 76, ambos com 5 temporadas cada), exibidos no canal Kid's WB entre 4 de novembro de 2000 e 25 de outubro de 2003. Um de seus maiores méritos foi o grande número de referências à cultura pop - um dos programas criados por Wolverine para a Sala de Perigo, por exemplo, se chamava Logan's Run, mesmo nome de um filme de ficção científica cult da década de 1970 - e aos próprios quadrinhos Marvel - Kitty Pride tem um dragão roxo de pelúcia e o prédio do Clarim Diário faz parte da paisagem de Nova Iorque, dentre outras. Outro de seus méritos foi introduzir um personagem novo que fez tanto sucesso que acabou migrando para os quadrinhos, justamente como a Estrela de Fogo de Homem-Aranha e Seus Amigos. Não, não foi Spyke, para quem aparentemente ninguém ligou muito, e sim a menina X-23, um clone de Wolverine adolescente e do sexo oposto, criada a partir de uma amostra danificada do DNA do mutante para ressucitar o programa Arma X. X-23 é hoje uma das principais personagens dos X-Men, e possui, inclusive, sua própria revista.

O desenho seguinte também teria a ver com um filme, e seria uma produção bastante curiosa. Spider-Man: The New Animated Series (exibido aqui simplesmente como Homem-Aranha) foi encomendado pela Mtv, e foi o primeiro desenho Marvel totalmente feito por computação gráfica. Mas a curiosidade ficou por conta do fato de que, originalmente, ele seria uma adaptação da revista Ultimate Spider-Man, acompanhando as aventuras do Homem-Aranha do Universo Ultimate, tanto que Brian Michael Bendis, que escrevia a revista, foi chamado para ser o produtor do desenho; porém, com o sucesso do filme do Homem-Aranha, lançado em 2002, a Sony, que detinha os direitos do personagem para cinema e TV, mudaria de ideia, e decidiria fazer do desenho uma continuação direta do filme.

Assim, o desenho acompanha Peter Parker (que tem a voz de Neil Patrick Harris, de How I Met Your Mother), Mary Jane Watson (voz da cantora Lisa Loeb) e Harry Osborn (Ian Ziering, de Barrados no Baile) retomando suas vidas logo após o ataque do Duende Verde e a morte de Norman Osborn. Peter tenta retomar seu romance com Mary Jane sem sucesso, principalmente por causa de suas atividades como Homem-Aranha, e Harry tenta a todo custo se vingar do aracnídeo, achando que ele foi o responsável pela morte de seu pai. Vários vilões famosos do Aranha, como o Lagarto, Kraven, Electro e o Rei do Crime, fizeram participações, alguns com adaptações - Electro, por exemplo, é um colega de Peter na universidade - mas a maioria dos episódios tem vilões novos, criados especialmente para a série. Um fato curiosíssimo sobre esse desenho é que não existe Tia May - segundo a Mtv, "a presença de um idoso na série poderia afastar o público-alvo".

O desenho teve apenas uma temporada de 13 episódios, exibidos entre 11 de julho e 10 de outubro de 2003. A audiência foi boa e as críticas foram favoráveis, mas a Mtv não ficou satisfeita, e acabou não renovando o contrato para uma segunda temporada. Como os custos de produção eram altos, a Sony optaria por não oferecê-lo a outro canal.

Depois de X-Men Evolution e do Homem-Aranha da Mtv, a Marvel ficaria três anos sem licenciar um desenho, voltando em 2006 com Quarteto Fantástico: Os Maiores Heróis da Terra (Fantastic Four: World's Greatest Heroes no original). Mais uma vez, o desenho sofreria grande influência do filme, lançado em 2005 - Alicia Masters, por exemplo, é negra no desenho como no filme, embora nos quadrinhos seja branca - mas, dessa vez, desenho e filme não têm uma relação direta, com os eventos do filme não sendo levados em conta nos episódios do desenho. Curiosamente, porém, o desenho já começa tendo o Quarteto Fantástico como um grupo de heróis já estabelecido, sem que haja um "episódio de origem" - a origem dos poderes do grupo é contada apenas em uma narração durante a abertura.

Ao todo, o desenho teve 26 episódios. Os 13 primeiros seguem o mesmo arco de história, com o Dr. Destino tentando controlar o poder da Zona Negativa em proveito próprio, enquanto os heróis tentam detê-lo. A segunda metade da série é composta de episódios soltos nos quais o Quarteto enfrenta vilões variados, como o Homem-Toupeira, o Mestre dos Bonecos e os Skrulls. Embora façam referências a diversas histórias dos quadrinhos, os episódios não são baseados diretamente nelas, tomando várias liberdades criativas.

Produzido pela Fox, o desenho seria originalmente exibido pelo Cartoon Network, e um dos motivos que o levaram a só ter uma temporada foi a enorme bagunça que o canal faria na hora da exibição: estreando no bloco Toonami em 2 de setembro de 2006, o desenho teria apenas os oito primeiros episódios exibidos antes de ser tirado do ar sem qualquer explicação. Ele retornaria em 9 de junho de 2007, pouco antes da estreia do filme Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, mas, além da reprise dos oito primeiros, apenas os nove seguintes seriam exibidos antes de sair do ar de novo. No final de 2007, o desenho estrearia no canal Boomerang, mas apenas os 17 episódios exibidos no Cartoon Network seriam reprisados. Os nove episódios restantes só iriam ao ar quando a Fox desistisse do Cartoon e negociasse o desenho com a Nickelodeon, que finalmente exibiria a série completa no canal Nicktoons Network, entre julho e dezembro de 2009 - um ano depois da série completa já ter sido até lançada em DVD.

Quando acontecem bagunças desse tipo, é normal tentar retornar ao modelo vencedor. Marvel e Sony, portanto, decidiriam investir em um desenho do Homem-Aranha no mesmo estilo de X-Men Evolution, com personagens adolescentes frequentando a escola. Chamado O Espetacular Homem-Aranha (The Spectacular Spider-Man), esse desenho condensaria vários fatos da carreira do herói, fazendo com que todos ocorressem durante sua adolescência, ao invés de ao longo de sua vida - Gwen Stacy e Mary Jane, por exemplo, são ambas colegas de Peter na escola. Peter acabou de ganhar seus poderes e perder seu tio, e tem de conciliar os estudos com a carreira de fotógrafo, que iniciou para ganhar um dinheirinho extra e ajudar sua tia; um estágio no laboratório da Empire State University, trabalhando ao lado do Dr. Connors; e, é claro, suas aventuras como Homem-Aranha - cujos problemas parecem ser todos causados por um misterioso homem que, com a ajuda de Norman Osborn e Otto Octavius, planeja criar um exército de supervilões para dominar o crime da cidade. Esses supervilões, desnecessário dizer, são os tradicionais das histórias do Aranha.

O desenho estrearia no canal The CW em 8 de março de 2008; sua primeira temporada, de 13 episódios, fez grande sucesso de público e crítica, e uma segunda temporada foi confirmada antes mesmo da primeira terminar. Aí, entretanto, começaram a acontecer coisas estranhas: primeiro, a segunda temporada, de mais 13 episódios, estrearia não no CW, mas no Disney XD. Antes de seu término, em 31 de agosto de 2009, a Disney anunciaria estar comprando a Marvel - parece até que a mudança de canal foi um prenúncio do que estava por vir. No dia seguinte, a Sony, não se sabe se por vontade própria ou pressionada, optaria por devolver todos os direitos de televisão do Homem-Aranha para a Marvel, mantendo apenas os de cinema. Como os direitos do desenho ainda pertenciam à Sony, mas os direitos dos personagens agora pertenciam à Disney (que passou a ser dona da Marvel), os produtores ficaram em um beco sem saída, incapazes de produzir uma terceira temporada. Assim, mesmo com boa audiência e críticas extremamente favoráveis - alguns críticos chegariam a considerá-lo a melhor representação do Aranha fora dos quadrinhos, e o segundo melhor desenho de super-heróis de todos os tempos, atrás apenas do Batman de Bruce Timm e Paul Dini - o desenho encerraria sua carreira televisiva com apenas 26 episódios, o último exibido em 18 de novembro de 2009.

Antes de a Marvel ser comprada pela Disney, outros dois desenhos seriam lançados. O primeiro seria Wolverine e os X-Men, produzido pela própria Marvel e exibido no Nicktoons Network, entre 23 de janeiro e 29 de novembro de 2009, para um total de 26 episódios. Não relacionado a X-Men Evolution, o desenho traz os X-Men novamente adultos (exceto Kitty Pride) e parte de uma premissa curiosa: após um ataque à Escola Xavier, o Professor X e Jean Grey desaparecem, e os X-Men, desiludidos com a destruição de seu lar e desaparecimento de seu mentor, se separam e vão viver suas vidas em cantos diferentes do planeta. Um ano depois, uma agência governamental chamada MRD começa a capturar, registrar e isolar mutantes, o que leva Wolverine e Fera a se unir e a tentar formar uma nova equipe de X-Men para localizar o Professor X e deter a MRD. Essa equipe, inicialmente formada por Wolverine, Fera, Ciclope, Emma Frost, Kitty Pride, Homem de Gelo, Tempestade, Anjo e Noturno, começa, então, a combater a MRD enquanto busca reunir o maior número de ex-X-Men (?) possível. Em dado momento, eles descobrem que não somente o presente, mas todo o futuro está em jogo, pois, se a equipe liderada por Wolverine fracassar, os Sentinelas assumirão as rédeas da MRD, condenando o planeta a uma era de escravidão.

Graças a uma maciça campanha de marketing da Nickelodeon, Wolverine e os X-Men teve uma audiência gigantesca, se tornando um dos mais assistidos desenhos da Marvel. A crítica também elogiaria bastante, considerando-o um dos melhores desenhos baseados nos personagens da editora. Satisfeita, a Marvel até usaria seu título para uma revista, de enredo semelhante, na qual Wolverine também lidera os X-Men.

Mas, se era tão bom assim, por que foi cancelado após apenas 26 episódios? Na verdade, esse é um assunto meio nebuloso. Uma segunda temporada até estava em planejamento, e o último episódio até acaba com um senhor cliffhanger, dando a entender que, embora tenham evitado a ascenção dos Sentinelas, os X-Men acabaram abrindo caminho para um futuro muito mais sombrio - a Era do Apocalipse, uma das mais famosas e populares sagas dos mutantes nos quadrinhos. Antes de começar a produção da segunda temporada, porém, tudo foi interrompido e a série foi cancelada. Somente em meados de 2010 a Marvel daria um motivo, e não foi um muito concreto: tudo o que foi divulgado foi que um dos "parceiros financeiros" da produção enfrentava "grandes dificuldades", e que, sem seu financiamento, não havia como a Marvel Animation dar prosseguimento à série. Apesar de protestos dos fãs, nada mais foi dito, e, até hoje, a segunda temporada não saiu do papel.

O segundo desenho lançado antes da compra da Marvel pela Disney seria mais um produzido sob encomenda após o sucesso de um filme. Iron Man: O Homem de Ferro (Iron Man: Armored Adventures no original) seguia o mesmo estilo de X-Men Evolution e O Espetacular Homem-Aranha, trazendo um Tony Stark adolescente - o que é bastante curioso, já que, nos quadrinhos, ele só inventou a armadura do Homem de Ferro depois de velho, e praticamente nada de sua adolescência é conhecido - que usa sua inteligência acima da média para inventar uma grande variedade de equipamentos tecnológicos, dentre eles a armadura do Homem de Ferro, buscando usá-los para encontrar seu pai, desaparecido após um misterioso acidente aéreo. A tecnologia criada por Tony, porém, atrai a atenção de vários vilões, a maior parte deles também de temática tecnológica, que visam adicionar suas invenções a seu arsenal de maldades, o que faz com que ele seja constantemente interrompido por eles em sua missão - ou tenha de interrompê-la para combatê-los e salvar inocentes. Finalmente, como todo adolescente, Tony frequenta a escola e passa por várias mudanças físicas e psicológicas, as quais tem de concliliar com sua carreira de herói. Felizmente, ele não está sozinho, contando com a ajuda de seus melhores amigos, James Rhodes e Pepper Potts, também adolescentes na série.

Assim como Wolverine e os X-Men, Iron Man foi produzido pela Marvel e exibido pela Nicktoons Network - e, assim como o Homem-Aranha da Mtv, era totalmente feito por computação gráfica. Ao todo, o desenho teve duas temporadas de 26 episódios cada, para um total de 52, com a primeira estreando em 24 de abril de 2009 e concluindo em 18 de janeiro de 2010. Nessa primeira temporada, Tony e seus amigos procuram, junto com Gene Khan (uma versão adolescente do Mandarim), por cinco anéis místicos de grande poder, que podem auxiliá-lo a desvendar o mistério do desaparecimento de seu pai. A primeira temporada seria um grande sucesso de público - seu episódio de estreia quebraria o recorde de audiência do Nicktoons - mas a crítica ficaria dividida, com alguns elogiando os roteiros e a arte, outros reclamando que Tony estava parecido demais com Peter Parker, e que apostar em um Homem de Ferro adolescente era um retrocesso em relação ao sucesso do filme, lançado no ano anterior. De qualquer forma, o sucesso junto ao público garantiria a produção da segunda temporada.

Graças à compra da Marvel pela Disney, porém, problemas de logística acabariam adiando essa produção, e a segunda temporada estrearia apenas mais de um ano após o final da primeira, em 13 de julho de 2011. A segunda temporada focaria mais na rivalidade entre Tony e Obadiah Stane, antigo sócio de seu pai e suspeito de tramar sua morte (e adulto também na série), e colocaria a vida do herói em perigo quando sua tecnologia seria roubada pelo vilão Fantasma e vendida para Stane e para o empresário Justin Hammer, que a usariam para construir suas próprias armaduras. Apesar da boa audiência, a segunda temporada não seria tão bem sucedida quanto a primeira, e, como a produção dos episódios era bastante cara, a Disney optaria por não produzir uma terceira, encerrando a série em 25 de julho de 2012.

E assim chegamos ao último desenho Marvel da década, Esquadrão de Heróis (The Super Hero Squad Show). Produzido em parceria pela Marvel, a Film Roman e a Ingenious Media, e exibido no Cartoon Network entre 14 de setembro de 2009 e 14 de outubro de 2011, esse desenho era inspirado em uma linha de brinquedos da Hasbro, chamada Marvel Super Hero Squad. Voltados para crianças pequenas, os brinquedos traziam os principais heróis e vilões Marvel com aparência de desenhos infantis e em versão super deformed - aquele estilo nos quais os personagens se parecem com adultos em miniatura, com cabeça, mãos e pés desproporcionalmente grandes.

Seguindo o mesmo estilo, o desenho é voltado para crianças pequenas - e não deixa de ser curioso que o primeiro desenho Marvel lançado após a empresa ser comprada pela Disney seja um justamente desse tipo - o que significa que não somente os personagens são bonitinhos e coloridos, mas também que as histórias têm um tom de comédia e galhofa. Nele, o Dr. Destino, que quer dominar o universo, reúne os principais vilões do mundo e forma uma equipe conhecida como Legião Letal, comandada por MODOK e pelo Abominável. Para combatê-los, o Homem de Ferro reúne os principais heróis, criando o Esquadrão de Heróis, cujos membros permanentes são ele, o Hulk, Wolverine, Thor, Falcão, o Surfista Prateado e Réptil - um novo personagem criado especialmente para o desenho, porque, aparentemente, todo desenho com uma equipe de heróis Marvel tem de ter um criado especialmente para ele - tendo como "membros associados" o Capitão América e Miss Marvel.

Na primeira temporada, de 26 episódios, o objetivo da Legião Letal é reunir fractais que se espalharam pela cidade durante a última luta do Dr. Destino contra o Homem de Ferro, que, se reunidos, formarão a Espada Infinita, que dará ao Dr. Destino o poder necessário para dominar o universo. Vários vilões famosos se envolvem nessa busca, como o Homem-Toupeira, a Gangue da Demolição, o Fanático, Garra Sônica, Dormammu, Loki, os Skrulls e mutantes como Magneto e Mística. Por sua vez, o Esquadrão de Heróis não os enfrenta sozinhos, contando com a ajuda de vários X-Men, do Quarteto Fantástico, dos Heróis de Aluguel e de alguns Vingadores, como a Vespa, a Viúva Negra e o Homem-Formiga - infelizmente, o Homem-Aranha ficaria de fora, por decisão da Sony. A comédia é onipresente - a boca do Homem de Ferro se mexe quando ele fala, Hulk é infantilizado e tem problemas para controlar sua agressividade, e o Surfista Prateado age e fala como um estereótipo de surfista, por exemplo. Um dos melhores episódios é o no qual Wolverine decide deixar o Esquadrão de Heróis e é convidado pelo Capitão América a se unir ao Esquadrão de Capitães como Capitão Canadá - atuando ao lado de Capitão Britânia, Capitão Austrália, do anãozinho Capitão Liechtenstein e da Capitã Brasil.

Na segunda temporada, o vilão principal é Thanos, que busca as Joias do Infinito para - adivinhem - dominar o universo. O Surfista Prateado decide se unir a Galactus, e é substituído no Esquadrão de Heróis pela Feiticeira Escarlate - decisão tomada após as críticas de que o Esquadrão não tinha nenhum membro permanente feminino. O Esquadrão de Heróis viaja por vários locais famosos do Universo Marvel para impedir Thanos de alcançar seu objetivo, interagindo com "personagens cósmicos" como Adam Warlock e Nebula. A segunda temporada seria mais uma vítima da confusão de horários do Cartoon Network, que exibiu 14 dos 26 episódios antes de tirar a série do ar, disponibilizando os restantes para vendas no iTunes. Após protestos dos fãs, o canal anunciou que a série retornaria, mas, seis meses depois de tirá-la do ar, exibiu um único novo episódio e a tirou do ar novamente. Somente após mais três meses é que os 11 episódios restantes seriam exibidos. Irritada, a Marvel tiraria do Cartoon Network os direitos de exibição, impedindo-o de exibir reprises. Diante disso, a Marvel também optaria por não produzir uma terceira temporada, decidindo investir em novas séries. O que foi uma pena, pois, além de bastante divertido, o Esquadrão de Heróis já estava se tornando uma espécie de franquia da Marvel, com revistas em quadrinhos e games de igual sucesso.

E aqui chegamos ao final de mais um post sobre os desenhos da Marvel. Como a década de 2010 ainda nem chegou à metade, é pouco provável que eu faça mais um. Mas não é bom afirmar com certeza categórica. Vai que vem uma vontade.

Série Desenhos Marvel

Década de 2000

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segunda-feira, 17 de junho de 2013

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Desenhos Marvel (II)

Há algum tempo, eu fui fazer um post sobre o desenho The Marvel Super Heroes, me empolguei e acabei falando sobre todos os desenhos dos heróis Marvel produzidos nas décadas de 1960, 1970 e 1980. E, sinceramente, só parei por aí porque os produzidos na década de 1990 eram muitos, e o post já estava muito grande.

Mas era quase certo que eu iria fazer uma continuação, e por um motivo muito simples: os desenhos Marvel da década de 1990 são meus preferidos. Eu adorava Homem-Aranha e Seus Amigos quando era criança, mas os desenhos da década de 1990 passavam quando eu era adolescente e minha paixão por super-heróis estava em seu auge. Acho até que, se até hoje eu gosto mais da Marvel que da DC, esses desenhos estão dentre os culpados.

Assim, peço licença para retornar ao assunto e fazer uma segunda parte do post sobre os Desenhos Marvel, abordando os produzidos na década de 1990! Não prometo que farei mais uma com os produzidos a partir de 2000, mas, em se tratando do átomo, nunca se sabe.

O primeiro desenho Marvel da década de 1990 foi o dos X-Men. A Marvel Productions, estúdio de animação sucessor da DePatie-Freleng Enterprises e responsável pelos desenhos Marvel da década de 1980, já havia tentado produzir um desenho dos X-Men em 1989, mas acabou conseguindo produzir só o piloto antes que dificuldades financeiras fizessem com que ela tivesse de fechar as portas. Esse piloto, chamado Pryde of the X-Men, teria como protagonista Kitty Pryde, mais recente membro de uma equipe que já contava com Ciclope, Colossus, Noturno, Cristal, Tempestade e Wolverine, que tem de impedir Magneto e a Irmandade de Mutantes, cujo pouco ambicioso plano é fazer um cometa colidir com a Terra.

Como já estava pronto mesmo, Pryde of the X-Men seria exibido algumas vezes como parte do programa Marvel Action Hour, que estreou em 1988 e trazia também reprises do desenho do Homem-Aranha de 1981 e de Homem-Aranha e Seus Amigos, além de Dino-Riders e do desenho do Robocop. Pryde of the X-Men também ficaria famoso por dar origem ao jogo de arcades dos X-Men produzido pela Konami (aquele que permitia até 6 jogadores simultâneos), mas a série da qual ele seria o piloto jamais seria produzida, com a Marvel recomeçando do zero quando tivesse uma nova oportunidade de produzir um desenho dos X-Men.

Essa oportunidade viria em 1992, graças à diretora do canal Fox, Margaret Loesch. Quando a Marvel Productions anunciou que não daria continuidade a Pryde of the X-Men, Loesch tentou de várias formas convencê-la do contrário, mas não conseguiu um contrato que permitisse ao estúdio superar suas dificuldades financeiras e prosseguir com a produção. Loesch, entretanto, não desistiria, e, naquele ano, conseguiria finalmente um arranjo para a produção de 13 episódios de um novo desenho dos X-Men: a Marvel cederia os personagens e as histórias e a Fox exibiria o desenho, produzido e distribuído pela Saban, produtora dos Power Rangers, e animado pelo estúdio sul-coreano AKOM, responsável por desenhos da Warner como Tiny Toons e Animaniacs.

Loesch planejava exibir o primeiro episódio do novo desenho em setembro, mas atrasos na produção do piloto, A Noite dos Sentinelas, fariam com que ele só pudesse estrear em 31 de outubro de 1992. Além dos atrasos, a AKOM cometeu vários erros ao animar o desenho, e se recusou a corrigi-los, alegando que seguiu ao pé da letra as informações da Saban e da Marvel. Irritada, e não querendo adiar ainda mais a estreia, a Fox dividiu o piloto em dois, exibindo esses dois primeiros episódios como um "preview", e ameaçou cancelar todos os contratos que tinha com a AKOM. Somente então o estúdio assumiu ter feito burrada e corrigiu os erros. A Fox reexibiria os episódios em janeiro de 1993, seguidos pelos demais 11 da temporada, já corretamente animados.

Quando Loesch costurou o acordo, planejava produzir a série da qual Pryde of the X-Men foi o piloto; a Marvel, porém, sabia que os tempos tinham mudado - Kitty Pryde, Cristal, Colossus e Noturno já não eram exatamente protagonistas nos quadrinhos - e decidiu fazer um desenho que tivesse como X-Men a equipe popularizada na década de 1990 por Jim Lee: Ciclope, Wolverine, Vampira, Tempestade, Fera, Gambit, Jean Grey e Jubileu, liderados pelo Professor X. O desenho traria versões das maiores histórias dos X-Men, como Dias de um Futuro Esquecido e a Saga da Fênix Negra, mas com adaptações para a época e a equipe que as viviam, além de referências às histórias clássicas - no episódio de estreia de Magneto, assim como em sua história de estreia nos quadrinhos, os X-Men o enfrentam em uma base de lançamento de mísseis. Dentre os vilões, os principais eram Magneto, Apocalipse, Mística, Dentes de Sabre, os Sentinelas e o Sr. Sinistro, com os secundários incluindo o Rei das Sombras, Ômega Vermelho, Henry Peter Gyrich, o Fanático, Sauron, Mojo, Espiral, Avalanche, Pyro e Blob. Alguns episódios contaram com participações especiais de outros personagens do universo dos X-Men, especialmente Bishop e Cable.

O desenho dos X-Men foi um grande sucesso de público e de crítica, principalmente por abordar temas espinhosos como divórcio, religiosidade, o Holocausto e até mesmo a Aids em seus episódios. As posturas de Xavier e Magneto em relação aos mutantes eram frequentemente comparadas às posturas de Martin Luther King Jr. e Malcolm X em relação aos direitos dos negros nos Estados Unidos. Hoje pouco se fala nisso, mas, na época, o desenho dos X-Men rivalizava com aquele do Batman produzido por Paul Dini e Bruce Timm em termos de audiência e elogios da crítica. Esse sucesso fez com que o desenho durasse nada menos que cinco temporadas, se tornando, até hoje, o desenho Marvel com o maior número de episódios, 76, o último tendo sido exibido em 20 de setembro de 1997.

O sucesso da primeira temporada dos X-Men também garantiu à Marvel uma extensão de seu contrato com a Saban para a produção de mais desenhos. Para melhor gerir essa nova produção, a Marvel criaria uma nova subsidiária, a Marvel Films, que mais tarde se tornaria a Marvel Studios, hoje responsável por filmes como Homem de Ferro e Os Vingadores.

A primeira produção da Marvel Films foi The Marvel Action Hour, um bloco de uma hora exibido desde o início em syndication - ou seja, passava desde a estreia em vários canais ao mesmo tempo, diferentemente de X-Men, que, originalmente, só passava na Fox. Cada "episódio" de The Marvel Action Hour começava com um episódio de um desenho do Homem de Ferro e terminava com um do Quarteto Fantástico. A estreia foi em 24 de setembro de 1994 e o encerramento em 24 de fevereiro de 1996, após duas temporadas e 26 episódios de cada desenho. Curiosamente, esses desenhos sofreriam de uma certa esquizofrenia, com a segunda temporada sendo totalmente diferente da primeira - no caso do Homem de Ferro, tão diferente que parece que são dois desenhos distintos. Isso aconteceu porque, insatisfeitas com a qualidade dos desenhos, que recebiam pesadas críticas tanto aos roteiros quanto à animação, Marvel e Saban demitiram o roteirista-chefe, Ron Friedman, substituindo-o por Tom Tataranowicz, e passaram a animação, a cargo da Rainbow Animation Group no caso do Homem de Ferro e da Wang Film Productions no caso do Quarteto Fantástico, para o estúdio sul-coreano Koko Enterprises, que, por um acaso, também tinha assumido os desenhos da Warner após mais uma besteira da AKOM. Talvez por causa dessas mudanças, depois do fim do bloco, nenhum dos dois desenhos se sustentou sozinho.

Em uma jogada de marketing, o Homem de Ferro foi escolhido, ao invés, por exemplo, do Homem-Aranha, por seu potencial para vender brinquedos - de fato, após o lançamento do desenho foi lançada uma extensa linha de brinquedos, cuja maioria era de variações da armadura do herói. Na primeira temporada, o desenho do Homem de Ferro seguia a fórmula de "grupo do bem versus grupo do mal" comum em desenhos dos anos 80 como He-Man e Thundercats: um arquivilão, o Mandarim, deseja roubar um artefato, a tecnologia da armadura do Homem de Ferro, que lhe permitirá dominar o mundo. Tony Stark, playboy bilionário responsável por criar a tal tecnologia, se transforma no Homem de Ferro para impedi-lo, e ambos os lados reunem grupos de colegas/capangas para facilitar sua tarefa: o Homem de Ferro lidera um grupo de heróis formado por Máquina de Combate, Gavião Arqueiro, Feiticeira Escarlate, Century e a segunda Mulher-Aranha (a de uniforme preto; essa equipe não foi escolhida por acaso, sendo baseada na Força-Tarefa, equipe que o Homem de Ferro formou nos quadrinhos no início da década de 1990), enquanto o Mandarim tem como asseclas o Cavaleiro do Medo, Chicote Negro, Gárgula Cinzento, Nevasca, Ciclone e Hypnotia, todos meio incompetentes como os capangas de um vilão de desenho animado devem ser. A maior parte dos episódios consistia de histórias fechadas, nas quais o Mandarim enviava um ou mais capangas para fazer alguma maldade e o Homem de Ferro selecionava um ou mais heróis para ajudá-lo a detê-los. Em vários episódios, o Homem de Ferro usava armaduras diferentes, como uma armadura submarina ou uma que lhe permitia ir ao espaço sideral.

Já na segunda temporada os episódios seguiam um arco, e, assim como no desenho dos X-Men, temas adultos como fobias, alcoolismo e consequências de seus atos eram abordados. Os anéis do Mandarim foram espalhados pelo mundo, e ele passou de vilão a coadjuvante, aparecendo apenas quando procurava por eles. Os aliados do Homem de Ferro também passaram a aparecer cada vez menos, e ele passou a cuidar de seus problemas sozinho, ou, no máximo, com a ajuda da Mulher-Aranha e do Máquina de Combate, que, após desenvolver uma fobia de ficar preso dentro da armadura para sempre, aparecia mais como James Rhodes do que como o super-herói. Os principais vilões da segunda temporada eram Justin Hammer, MODOK e Fin Fang Foom, que planejava reunir um grupo de dragões para dominar o mundo.

Por sua vez, o desenho do Quarteto Fantástico seguia fielmente o enredo das histórias clássicas da década de 1960, como a da chegada de Galactus, a incursão de Namor ao mundo terrestre e a invasão dos Skrulls, com o principal vilão da série sendo o Dr. Destino. Friedman, porém, tentou tornar os desenhos mais cômicos e apropriados às crianças, inserindo mais piadas e criando uma nova personagem, uma senhoria britânica para o prédio onde morava o Quarteto, o que desagradou aos fãs e à crítica. No início de cada episódio, Stan Lee fazia uma breve introdução, explicando quem seriam os pewrsonagens daquele episódio e o que o teria inspirado a criá-los, o que era considerado chato e desnecessário pelos telespectadores.

Na segunda temporada essa introdução foi removida, o humor foi deixado de lado e o Dr. Destino apareceu menos, com a maior parte dos episódios contando com vilões como o Homem-Psíquico e o Mago e com a participação de heróis como os Inumanos, o Hulk e o Demolidor. Galactus também retornou, mas sem a companhia do Surfista Prateado, seu arauto na primeira temporada. No geral, as mudanças feitas para a segunda temporada não agradaram, e tanto o desenho do Quarteto Fantástico quanto o do Homem de Ferro tiveram péssimos índices de audiência, o que acabou levando ao cancelamento do bloco.

Enquanto produzia The Marvel Action Hour, a Marvel Films também produziu um novo desenho para a Fox, dessa vez estrelando o Homem-Aranha. Assim como o dos X-Men, ele era baseado nas maiores histórias do Aranha, e não tinha um vilão principal - quem mais se aproximava desse papel era o Rei do Crime. Na primeira temporada, cada episódio era uma história fechada, na qual o Homem-Aranha enfrentava um de seus vilões clássicos, como o Lagarto, o Escorpião, Dr. Octopus, Mysterio ou Morbius, com alguns sendo, no máximo, em duas partes, como o do Duende Macabro, ou em três, como o do Venom; curiosamente, Norman Osborn era um dos principais personagens, mas o Duende Verde só daria as caras na terceira temporada. A partir da segunda temporada, começaram a surgir os arcos de história, e vários outros heróis Marvel fizeram participações especiais em alguns episódios, como o Demolidor, Blade, Dr. Estranho, o Justiceiro, Capitão América e até mesmo o Homem de Ferro, o Quarteto Fantástico e os X-Men - a Quinta temporada, aliás, foi um grande arco de história recriando resumidamente a saga Guerras Secretas, com a Madame Teia escolhendo o Homem-Aranha para liderar uma equipe formada por Sr. Fantástico, Mulher Invisível, Tocha Humana, Coisa, Capitão América, Gata Negra, Homem de Ferro e Tempestade contra uma equipe de vilões liderada pelo Dr. Destino e formada por Dr. Octopus, o Lagarto, o Caveira Vermelha e Alistair Smythe. É interessante notar que, assim como no filme de Sam Raimi, o desenho não conta com Gwen Stacy, com o principal interesse amoroso de Peter Parker sendo Mary Jane.

Assim como o desenho dos X-Men, o do Homem-Aranha fez um grande sucesso e durou cinco temporadas, embora tenha tido menos episódios, 65, o primeiro sendo exibido em 19 de novembro de 1994 e o último em 31 de janeiro de 1998. A série, aliás, só seria cancelada porque o presidente da Marvel Films, Avi Arad, se desentenderia com Loesch, chegando a prometer jamais trabalhar com ela novamente - na quinta temporada, a audiência ainda era excelente, e até mesmo a popularidade dos quadrinhos do Homem-Aranha foi alavancada pela popularidade do desenho. Assim como o desenho do Homem de Ferro, o do Homem-Aranha também teve uma linha de brinquedos relacionada, que também fez grande sucesso.

Enquanto os desenhos do Homem-Aranha e dos X-Men ainda estavam no ar, a Saban conseguiu um novo contrato para a Marvel Films, para produzir um desenho para o canal UPN, de propriedade da Paramount. Após algumas negociações, ficaria decidido que esse desenho seria estrelado pelo Hulk. Esse seria o último desenho produzido pela Marvel Films, que, em meados de 1996, se transformaria na Marvel Studios.

O novo desenho do Hulk, que em inglês se chamava The Incredible Hulk, estrearia em 8 de setembro de 1996, e, assim como os desenhos do Quarteto Fantástico e do Homem de Ferro, sofreria de esquizofrenia. Na primeira temporada, de 13 episódios, Bruce Banner tenta, com a ajuda de seus amigos Betty Ross, Leonard Samson e Rick Jones, encontrar uma cura para a radiação gama que faz com que ele, quando nervoso, se transforme no Hulk (dublado por Lou Ferrigno, que interpretava o Hulk na série da década de 1970), enquanto foge de dois antagonistas: o General Thunderbolt Ross, pai de Betty, que considera o Hulk uma ameaça ao país e planeja usar o exército para destruí-lo, e o Líder, outra criatura criada pela radiação gama, mas que, ao invés de grande força, adquiriu grande inteligência, e que, com a ajuda de capangas também modificados pela radiação gama, como o Gárgula e o Abominável, planeja capturar o Hulk para extrair seu DNA e criar um exército que lhe permitirá dominar o mundo. Como de costume, o desenho contaria com a participação de outros heróis Marvel, como Thor, o Motoqueiro Fantasma, o Quarteto Fantástico, o Máquina de Combate e a Mulher-Hulk, que teria sua origem contada em um episódio de duas partes.

A primeira temporada seria considerada muito adulta e sombria pela UPN, que exigiria mudanças para a segunda - praticamente todos os episódios tinham um final triste, no qual Banner parecia estar ainda mais miserável do que quando o episódio começou. A pedido do canal, Samson e os mutantes criados pelo Líder foram removidos da série, Rick Jones e Betty Ross passaram a ter cada vez menos importância, o General Ross deixaria de ser um dos antagonistas, restando somente o Líder, e a Mulher-Hulk teria muito mais destaque, tanto que o nome do desenho seria alterado para The Incredible Hulk and She-Hulk. A segunda temporada também traria o Hulk Cinza, que lutaria pelo controle da mente de Banner contra o Hulk original. Essas mudanças não agradaram ao público, e a audiência da segunda temporada foi sofrível, o que faria com que ela fosse cancelada após apenas oito episódios, para um total de 21, o último sendo exibido em 23 de novembro de 1997.

Em 1997, Larry Brody, criador da Série Animada de Jornada nas Estrelas e do desenho do Super-Homem produzido por Paul Dini e Bruce Timm, procuraria a Marvel Studios com a ideia de um desenho do Surfista Prateado, herói que realmente não era muito lembrado nessas horas. Como a produção do desenho dos X-Men já havia se encerrado, a Marvel entregou a produção do desenho do Surfista à Saban. Mesclando animação tradicional e computação gráfica, o desenho seria fortemente inspirado nas histórias clássicas criadas por Jack Kirby, principalmente no tocante ao visual dos personagens. Para que o Surfista fosse a verdadeira estrela do desenho, alguns pontos-chave das histórias seriam alterados, como a total ausência do Quarteto Fantástico na chegada de Galactus à Terra, que é salva pelo Surfista por lembrá-lo de Zenn-La, seu planeta natal.

O desenho do Surfista Prateado estrearia em 7 de fevereiro de 1998 na Fox - na época, Loesch já não era a diretora do canal, tendo sido substituída por Roland Poindexter, e, após as experiências ruins com a UPN e com os desenhos em syndication, a Marvel decidiria tentar mais uma vez com o canal que havia televisionado seus maiores sucessos da década. Seus 13 episódios contariam um grande arco de história, tocando em temas como ecologia, imperialismo, pacifismo e escravidão, e contando com a participação de vários personagens "espaciais" da Marvel, como Thanos, Nebula, o Vigia, Frankie Raye, Pip, Drax, Gamora, Bill Raio Beta e Adam Warlock. Apesar de ter tido boa audiência e agradado à crítica - cuja única reclamação foi quanto ao excesso de monólogos longos do protagonista - o desenho só teria essa temporada, se encerrando em 16 de maio de 1998. Oito roteiros chegaram a ser escritos para uma segunda temporada, mas a produção do desenho era caríssima, e a Marvel, passando mais uma vez por um momento complicado, preferiria investir em um desenho mais barato e de maior retorno.

Esse desenho, na opinião da Marvel, era o do Homem-Aranha. Sem Loesch na Fox, Arad aceitaria retomar a produção, e começariam os planos para uma hipotética sexta temporada, com orçamento bastante reduzido em relação às cinco anteriores. Essa temporada, porém, esbarrou em um problema: mais ou menos na mesma época, a Marvel negociou os direitos do Homem-Aranha com a Sony, para que fosse produzido o filme do Sam Raimi. Por causa do contrato firmado com a Sony, a Saban não poderia usar o uniforme original do herói, nem adaptar nenhuma de suas histórias clássicas.

A Saban poderia simplesmente ter convencido a Marvel a produzir um desenho de outro personagem, mas resolveu pagar pra ver com uma solução bem bizarra: no novo desenho, o uniforme do Homem-Aranha teria nanotecnologia criada pelo Sr. Fantástico, que incluía tecnologia de camuflagem e raios sônicos, e ele viveria suas aventuras não na Terra, mas na Contra-Terra, um planeta extremamente semelhante ao nosso, descoberto por John Jameson, o filho astronauta do dono do Clarim Diário. A Contra-Terra é dominada pelo Alto Evolucionário, um geneticista que combina DNA de humanos e animais buscando criar a raça perfeita, e o Homem-Aranha vai parar lá quando Venom e Carnificina sabotam o ônibus espacial que está levando John Jameson para o planeta enquanto Peter está tirando fotos do evento - quando o Homem-Aranha tenta impedir os vilões, os quatro acabam viajando pelo espaço, e, graças à sabotagem, ficam presos na Contra-Terra.

Apesar de ser oficialmente uma continuação, o desenho sairia tão diferente do anterior que a Marvel decidiria lhe dar um subtítulo, Homem-Aranha: Ação Sem Limites (Spider-Man Unlimited em inglês). O desenho estrearia em 2 de outubro de 1999 com boa audiência, mas, devido à popularidade de Pokémon no concorrente Kids WB, a Fox optaria por investir em Digimon, tirando o Homem-Aranha do ar após apenas quatro episódios. A série só voltaria ao ar em 13 de janeiro de 2001, mais de um ano após a exibição do quarto episódio, quando os nove restantes, para um total de 13, seriam finalmente exibidos. Talvez pelo longo hiato, talvez porque o desenho era ruinzinho mesmo, essa "segunda metade" não teve boa audiência, e uma segunda temporada não foi produzida, mesmo com oito roteiros já estando prontos - o último episódio, que foi ao ar em 31 de março de 2001, aliás, termina com um final aberto, cuja conclusão ninguém jamais saberá.

Antes de a década terminar, Marvel e Fox ainda produziriam um último desenho, dos Vingadores (chamado, em inglês, Avengers: United They Stand). Poindexter já planejava fazer um desenho dos Vingadores desde 1997, e dois dos roteiristas do desenho dos X-Men chegaram a criar uma sinopse para um arco de história de 13 episódios, mas os problemas financeiros da Marvel adiariam a produção da série até 1999. No desenho, a equipe dos Vingadores é formada por Homem-Formiga, Vespa, Magnum, Tigra, Gavião Arqueiro, Falcão, Visão e Feiticeira Escarlate. Segundo o roteirista-chefe Eric Lewald, mesmo do desenho dos X-Men, a opção de deixar os "Vingadores principais" - Capitão América, Homem de Ferro, Thor e Hulk - de fora se deveu ao fato de que ele preferia focar em um grupo equilibrado de super-heróis ao invés de um grupo de coadjuvantes liderado por estrelas, mas a verdade é que a Marvel, assim como havia feito com Homem-Aranha e X-Men, planejava negociar os direitos desses personagens para filmes, e colocá-los no desenho podia prejudicar as negociações. Capitão América e Homem de Ferro ainda chegaram a fazer participações especiais em um episódio cada, mas Thor só aparece na abertura, e o Hulk nem isso.

Na época, o desenho de super-heróis mais popular era Batman do Futuro, exibido pela Kids WB, o que fez com que a Fox pedisse à Marvel que ambientasse o desenho dos Vingadores cerca de 20 anos no futuro, para tentar pegar uma carona no sucesso do concorrente. Assim, Nova Iorque, onde a ação se passa, possui prédios e carros futuristas, e os Vingadores contam com tecnologias como armaduras e um comunicador em forma de A ao estilo dos de Jornada nas Estrelas. Os antagonistas, porém, são os mesmos dos quadrinhos, como Ultron, Kang, os Mestres do Mal, o Zodíaco e o Ceifador, que no desenho também é irmão de Magnum. Embora as histórias clássicas não tenham sido adaptadas para o desenho, vários episódios faziam referências a elas.

O desenho dos Vingadores também só teve uma temporada, de 13 episódios, estreando em 30 de outubro de 1999 e se encerrando em 26 de fevereiro de 2000. Sinopses para a segunda temporada chegaram a ser planejadas, incluindo participações especiais de Hulk, Thor e dos X-Men, mas, devido à baixa audiência da primeira, a Fox preferiu não encomendar a segunda.

Série Desenhos Marvel

Década de 1990

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segunda-feira, 25 de março de 2013

Escrito por em 25.3.13 com 0 comentários

Desenhos Marvel (I)

Alguns posts do átomo acabam sendo adiados indefinidamente, por uma variedade de motivos. Alguns se perdem para sempre, outros, de repente, quando menos se espera, ressurgem. É o caso do post de hoje.

Desde que eu fiz o post sobre o Thor que eu venho querendo falar sobre The Marvel Super Heroes. Outros assuntos mais cotados acabaram entrando na frente, porém, e somente hoje eu resolvi tirá-lo da minha cabeça. Bom, antes tarde do que nunca.

Para quem não está ligando o nome à pessoa, The Marvel Super Heroes é aquele desenho nem um pouco animado que passava nas manhãs, quase madrugadas, dos anos 80 na TV, não me lembro bem em qual canal. Eu lembro que eu tinha uns 6 ou 7 anos de idade e estudava de manhã, o que fazia com que eu tivesse de acordar bem cedo, algumas vezes até tendo de acender as luzes para tomar café, pois o sol ainda nem havia nascido, e, mesmo assim, quando eu ligava a televisão, lá estavam os Heróis Marvel combatendo o crime. Sempre me perguntei por que resolviam passar aquele desenho tão cedo, e sempre achei que fosse para as crianças que acordavam cedo como eu.

Confesso que, na época, eu não achava o desenho lá essas coisas. Era feio e esquisito, e a concorrência - o desenho dos Super Amigos, da DC - passava na mesma época, em horário mais acessível e era melhor produzido. Ainda assim, foi um desenho que marcou a minha infância - até hoje me lembro de alguns trechos de alguns episódios, em especial uma luta do Thor contra o Homem-Absorvente - além de ter sido o responsável para que eu conhecesse os Heróis Marvel - mais tarde, quando tive meu primeiro contato com eles nos quadrinhos, já os conhecia, ao passo que alguns amigos meus só conheciam os da DC.

The Marvel Super Heroes foi produzido pela Grantray-Lawrence Animation, fundada pelos publicitários Grant Simmons, Ray Patterson e Robert Lawrence. Inicialmente criada em 1954 para fazer peças publicitárias em animação, a empresa decidiria se aventurar pelo mundo dos desenhos animados para tentar ganhar um dinheiro extra em 1965, e, para isso, procuraria o então diretor da Marvel, Martin Goodman. Animado com a possibilidade de levar os personagens Marvel para a televisão, Goodman fecharia o contrato, deixando a cargo de Lawrence escolher os heróis que estrelariam o desenho. Goodman também apontaria Stan Lee, à época diretor de arte da Marvel e criador ou co-criador de quase todos os personagens da editora, para ser diretor de arte do desenho. Lee não se animou muito, e, para convencê-lo, Lawrence alugou uma cobertura no centro de Nova Iorque, próxima ao estúdio, onde ele e sua esposa poderiam morar enquanto a série estivesse sendo produzida.

O problema foi que, ao contrário do que possa parecer, a Grantray-Lawrence Animation não estava exatamente nadando em dinheiro - The Marvel Super Heroes era, justamente, uma tentativa desesperada de fazer caixa. O resultado foi que o orçamento para os desenhos era quase inexistente, o que levou à criação de uma técnica, no mínimo, inusitada: o estúdio pegava arte já pronta dos quadrinhos Marvel, recortava os personagens que interessavam, juntava todos para fazer uma cena, tirava xerox, coloria e filmava com a câmera de animação. Por um lado, isso cortou imensamente os custos, já que nenhum animador precisou ser contratado, por outro, fez com que o desenho não fosse exatamente animado - as únicas coisas que se moviam eram os lábios dos personagens quando eles falavam, um eventual braço ou perna, ou uma silhueta totalmente preta, desenhada pelo próprio Lawrence. Os desenhistas responsáveis pela arte dos quadrinhos Marvel "pirateados", especialmente Jack Kirby, Steve Ditko e Don Heck, jamais receberam um tostão, mas, como eram outros tempos, também jamais se importaram com isso.

The Marvel Super Heroes não foi produzida como uma série animada de um só herói, mas como cinco séries distintas, cada uma indo ao ar um dia da semana: segunda-feira era o dia do Capitão América, terça-feira era o Hulk, quarta-feira o Homem de Ferro, quinta-feira o Thor e sexta-feira era a vez de Namor, o Príncipe Submarino (Nota do Guil: o nome da quinta-feira em inglês, Thursday, vem de Thor's Day, o "Dia de Thor" - quem programou o desenho do Thor para as quintas-feiras ou teve uma sacada genial ou proporcionou uma bizarra coincidência). Além desses heróis, também fizeram participações especiais os X-Men originais (Anjo, Fera, Homem de Gelo, Ciclope e Garota Marvel) em um dos episódios de Namor - mas identificados como "Aliados pela Paz" ao invés de X-Men - e alguns dos Vingadores (Gigante, Vespa, Gavião Arqueiro, Mercúrio e Feiticeira Escarlate) em alguns episódios do Capitão América.

Por alguma razão bizarra, cada dia era composto não de um, mas de três episódios de sete minutos cada, que, juntos, formavam uma mesma história. Além dos comerciais, completavam os 30 minutos de exibição na TV uma abertura genérica, que passava todos os dias - cada super-herói tinha também sua própria abertura, que passava logo depois da genérica - um encerramento com os créditos, e propagandas dos heróis dos outros dias, que exibiam seus poderes e anunciavam em qual dia da semana as crianças poderiam vê-los. Apesar da "pirataria", os episódios não eram cópias das histórias dos quadrinhos, e sim roteiros originais inspirados por elas - o episódio de Namor que conta com a participação dos X-Men, por exemplo, foi inspirado em uma história do Quarteto Fantástico, e os X-Men substituíram o Quarteto por razões de licenciamento, já que a Marvel já estava negociando com a Hanna-Barbera para fazer um desenho só deles.

Originalmente, The Marvel Super Heroes foi ao ar entre 1o de setembro e 1o de dezembro de 1966, já em esquema de syndication - vendida para vários canais ao mesmo tempo, ao invés de passar primeiro em um para depois ser oferecida aos demais. Ao todo, foram produzidos 39 episódios de cada herói, que, exibidos de três em três, foram o suficiente para manter cada um no ar durante 13 semanas - e, multiplicando 13 por 5, que é o número de heróis, temos 65, que, como os leitores do átomo sabem, é o número padrão de episódios por temporada para uma série animada norte-americana que vai ao ar de segunda a sexta.

Após sua exibição original, The Marvel Super Heroes foi bastante reprisado, inclusive desmembrado, com seus curtos episódios servindo até para que alguns canais ocupassem o espaço entre um desenho e outro em sua programação. A Marvel ficou satisfeita com o sucesso do desenho, e confiou à Grantray-Lawrence Animation a produção de mais um desenho, dessa vez do Homem-Aranha.

Esse desenho, que estreou em 9 de setembro de 1967 e teve Stan Lee e John Romita como consultores, mostrava Peter Parker apenas como fotógrafo do Clarim Diário, tendo de aturar as maluquices de J. Jonah Jameson ou cantando a secretária Betty Brant, até que algum crime acontecia e ele se transformava no Homem-Aranha para impedir os vilões. Curiosamente, praticamente nada da vida de Peter fora do Clarim era sequer mencionado.

O orçamento do desenho do Homem-Aranha foi um pouco maior, já que a Marvel conseguiu negociá-lo com o canal ABC, que já exibia o desenho do Quarteto Fantástico produzido pela Hanna-Barbera, ao invés de oferecê-lo em syndication; mesmo assim, a animação era bastante precária, com os personagens tendo poucos movimentos e muitas cenas, como a de Peter vestindo a máscara ou a do Homem-Aranha se balançando entre os prédios, sendo repetidas a cada episódio. Apesar disso, o desenho fez um imenso sucesso, principalmente graças à musiquinha da abertura, até hoje associada ao personagem.

Infelizmente, o grande sucesso do desenho não livraria a Grantray-Lawrence Animation de um triste destino: a falência. Os problemas financeiros que fizeram com que o estúdio procurasse a Marvel só fizeram aumentar e, no final de 1967, eles finalmente tiveram de fechar as portas. Como a ABC encomendou uma segunda temporada do desenho, a Grantray-Lawrence Animation indicou a Krantz Films, com quem já havia trabalhado em duas outras produções, para substituí-la.

A Krantz Films, entretanto, não fez um bom trabalho. Para começar, cortaria ainda mais o orçamento, tornando a animação ainda mais precária. Em segundo lugar, enquanto os episódios da primeira temporada contavam com praticamente todos os vilões de sucesso dos quadrinhos do Homem-Aranha, a Krantz optaria por usar na segunda vilões genéricos criados por ela mesma, quase todos com poderes de origem mágica, um artifício para que ela pudesse reaproveitar cenas de outros desenhos seus - dois dos episódios, por exemplo, eram cópias fiéis de episódios de Rocket Robin Hood, que apenas substituíam o protagonista pelo Homem-Aranha. Lee e Romita também deixariam seus cargos de consultores, ficando a criação das histórias totalmente a cargo da Krantz. Finalmente, na segunda temporada Peter quase não apareceria no Clarim, com sua parte das histórias sendo ambientada na faculdade, onde ele tinha problemas com esportes e valentões e sempre tentava convidar belas colegas para encontros, sem sucesso.

Apesar de todos os problemas, a ABC ainda encomendaria uma terceira temporada, na qual a Krantz traria de volta os vilões clássicos, mas com vários erros de continuidade, principalmente em sua aparência. Uma queda vertiginosa na audiência fez com que não houvesse uma quarta.

No total, o desenho teve 77 episódios, sendo 38 na primeira (exibidos em 20 dias de segunda a sexta; 36 desses episódios tinham 12 minutos cada e foram exibidos dois a dois, enquanto os outros dois tinham 25 minutos cada), 19 (de 25 minutos cada) na segunda e 20 na terceira (16 deles com 12 minutos e exibidos dois a dois, mais cinco de 25 minutos, para um total de 13 semanas). O último foi ao ar dia 14 de junho de 1970.

O desenho do Quarteto Fantástico não teve melhor sorte. Com animação igualmente precária e vilões com visual bem diferente dos quadrinhos - especialmente Galactus - o desenho não fez muito sucesso, sendo cancelado após apenas 20 episódios de 22 minutos cada, que foram ao ar semanalmente (e bem espaçados entre si) entre 9 de setembro de 1967 e 21 de setembro de 1968.

O insucesso dos desenhos do Homem-Aranha e do Quarteto Fantástico fariam com que a Marvel passasse praticamente toda a década de 1970 sem investir em desenhos. Somente em 1978 ela decidiria abrir seu próprio estúdio de animação, a Marvel Comics Animation, fazendo uma parceria com a DePatie-Freleng Enterprises, conhecida pelos desenhos da Pantera Cor-de-Rosa e do Mr. Magoo, para um segundo desenho do Quarteto Fantástico. Bizarramente, nesse desenho a equipe não contava com a presença do Tocha Humana, substituído pelo robô Herbie. Na época, houve um rumor de que o canal que exibiria o desenho, a NBC, havia exigido a mudança, temeroso de que as crianças que o assistissem quisessem imitar o Tocha Humana e ateassem fogo às próprias roupas, mas a verdade é que a Marvel já estava negociando o Tocha Humana para estrelar um filme solo para a TV produzido pela Universal, que jamais sairia do papel, e a Universal impediria a DePatie-Freelang de usar o personagem. Com qualidade de animação melhor que o desenho anterior, mas deixando a desejar nos roteiros, o segundo desenho do Quarteto teria apenas 13 episódios de 22 minutos cada, exibidos entre 9 de setembro e 16 de dezembro de 1978.

No início de 1979, a Marvel seria procurada mais uma vez pela ABC, interessada em um novo desenho. Dessa vez, ao invés de apostar em seus heróis mais populares, a Marvel decidiria por um personagem novo, a Mulher-Aranha, que havia estreado nos quadrinhos em fevereiro de 1977 - e cuja origem, curiosamente, está ligada aos desenhos animados: em 1976, a Filmation, que na década de 1980 se tornaria famosa pela produção do desenho do He-Man, anunciou que seu próximo lançamento seria o desenho de uma super-heroína chamada Web Woman (a "Mulher-Teia"). Ao tomar conhecimento da notícia, Stan Lee decidiu que a Marvel precisava garantir os direitos sobre o nome "Mulher-Aranha" antes que outra companhia qualquer o fizesse. Já rolava um certo atrito entre a Marvel e a DC por causa dessa troca de gêneros desde 1964, quando a Marvel lançou o Magnum (cujo nome em inglês é Wonder Man) e foi acusada pela DC de plágio do nome da Mulher Maravilha (Wonder Woman); por sua vez, em 1976, a DC lançaria a Poderosa (Power Girl), e seria acusada pela Marvel de plágio do nome de Luke Cage (que em inglês, na época, usava o codinome Power Man). Como o Homem-Aranha era o herói Marvel mais popular, Lee ficou com medo de que alguém lançasse uma Mulher-Aranha, e quis garantir logo o nome.

O desenho, portanto, seria uma boa oportunidade para aumentar a popularidade da personagem e trazer mais leitores para os quadrinhos. Criado mais uma vez em parceria com a DePatie-Freleng Enterprises, ele seria exibido entre 22 de setembro de 1979 e 3 de janeiro de 1980, com um total de 16 episódios semanais de 25 minutos cada, e acompanharia a vida de Jessica Drew, que, quando criança, foi mordida por uma aranha venenosa. Para salvá-la, seu pai a injetou um soro experimental, que acabaria dando à menina super-poderes. Já adulta, Jessica trabalha como editora da revista Justice, ao lado do fotógrafo Jeff e de seu sobrinho adolescente Billy. Quando a necessidade surge, ela assume o manto de Mulher-Aranha, usando seus poderes para combater o mal. Curiosamente, essa história tem muito pouco a ver com a dos quadrinhos - nos quais Jeff, Billy e a revista Justice nem existiam, e os poderes da Mulher-Aranha eram completamente diferentes, por exemplo - mas acabou funcionando bem.

Diferentemente dos imediatamente anteriores, o desenho da Mulher-Aranha seria um grande sucesso. Aproveitando a crista da onda, David DePatie e Friz Freleng, que já vinham mais uma vez sofrendo com problemas financeiros, ofereceriam vender a companhia para a Marvel, que aceitaria e mudaria seu nome para Marvel Productions. Freleng voltaria para a Warner Bros, de onde havia saído para fundar a empresa, mas DePatie ficaria na Marvel e se tornaria presidente da Marvel Productions. Sua primeira decisão seria não fazer uma segunda temporada da Mulher-Aranha, e sim um novo desenho do Homem-Aranha.

Mais uma vez contando com a supervisão de Stan Lee, esse novo desenho teria arte inspirada nas tirinhas do herói publicadas em jornais da época, desenhadas por John Romita. Nele, o Homem-Aranha enfrentava vilões clássicos dos quadrinhos - a maioria de sua própria série, mas alguns "emprestados", como Magneto e o Dr. Destino - enquanto Peter Parker tentava conciliar sua vida de herói com seu emprego no Clarim Diário, seus estudos na Universidade e os cuidados com sua idosa Tia May. O desenho teria um total de 26 episódios de 25 minutos cada, exibidos semanalmente entre 12 de setembro de 1981 e 30 de março de 1982 em regime de syndication.

Enquanto o desenho estava em produção, porém, aconteceu um fato curioso: a NBC procuraria a Marvel, interessada em um desenho para competir com o dos Super Amigos, então exibido pela ABC. A NBC não queria, porém, um desenho dos Vingadores (a "versão Marvel" da Liga da Justiça), e sim um desenho no qual o Homem-Aranha liderasse um grupo de heróis, todos amigos uns dos outros, contra famosos vilões da Marvel.

Foi o próprio Stan Lee quem teve a ideia para o nome desse desenho, Homem-Aranha e Seus Amigos (Spider-Man and His Amazing Friends no original), bem como para a formação da equipe - ao invés de um bando de heróis Marvel, apenas três: o Homem-Aranha, o Homem de Gelo dos X-Men e o Tocha Humana do Quarteto Fantástico. Mas a NBC, aparentemente, não ia muito com a cara do Tocha Humana, já que, assim como não ligou de ele não estar presente no desenho do Quarteto, não o queria nesse. Além disso, a emissora não ficou muito satisfeita com um trio masculino, e pediu à Marvel que a equipe tivesse pelo menos uma mulher. Para manter o tema aranha-gelo-fogo, Stan Lee inventaria uma personagem totalmente nova, a Estrela de Fogo, uma mutante que, no desenho, é amiga do Homem de Gelo e membro dos X-Men, e que faria tanto sucesso que estrearia também nos quadrinhos, em Uncanny X-Men 193, de maio de 1985.

No primeiro episódio, o Homem-Aranha, o Homem de Gelo e a Estrela de Fogo se encontram por acaso durante uma luta contra o Besouro, e, após descobrirem acidentalmente suas identidades secretas e que estudam todos na mesma universidade, decidem dividir um apartamento e atuar juntos na luta contra o mal. Estreando no mesmo dia em que o desenho solo do Homem-Aranha, Homem-Aranha e Seus Amigos teria uma primeira temporada de 13 episódios semanais de 25 minutos, e faria tanto sucesso que acabaria eclipsando o outro desenho - muita gente acha que Homem-Aranha e Seus Amigos é a segunda temporada do desenho do Homem-Aranha, ou que ambos fazem parte de uma mesma série, com o Homem-Aranha atuando sozinho em alguns episódios e acompanhado em outros.

Satisfeita com o desempenho do desenho, a NBC encomendaria não somente uma segunda temporada, mas também um segundo desenho, com o qual faria um bloco de uma hora somente com heróis Marvel. A Marvel decidiria que esse novo desenho seria do Hulk, para aproveitar a popularidade da série com Bill Bixby e Lou Ferrigno, exibida pela CBS, e que em 1982 chegaria à sua última temporada. Bem mais fiel aos quadrinhos que a série de TV, esse novo desenho do Hulk formaria com Homem-Aranha e Seus Amigos um bloco chamado The Incredible Hulk and the Amazing Spider-Man, que, assim como The Marvel Super Heroes, teria uma abertura e créditos comuns, com cada um dos dois desenhos também mantendo sua abertura no início de cada episódio. O bloco estrearia em 18 de setembro de 1982.

A produção do desenho do Hulk sofreria vários problemas, a maioria envolvendo preocupações da NBC em relação à reação dos pais das crianças que assistissem o desenho - por exemplo, nenhum soldado podia portar armas que lembrassem armas reais, apenas armas futuristas, e o Hulk não podia machucar nenhum humano, apenas destruir objetos inanimados para atrasar seus perseguidores. Muitas dessas mudanças acabaram sendo pedidas de última hora, o que levaria a atrasos na produção. O resultado foi que a primeira temporada do Hulk teria 9 episódios, mas a segunda de Homem-Aranha e Seus Amigos acabaria apenas com três, que contavam, cada um, as origens dos heróis do trio. Os outros seis episódios de Homem-Aranha e Seus Amigos necessários para fechar o bloco seriam reprises da primeira temporada, com a adição da narração de Stan Lee - a narração na primeira temporada de Homem-Aranha e Seus Amigos havia ficado a cargo de Dick Tufeld, mas, como Stan Lee havia sido contratado para narrar o desenho do Hulk, e, para manter a coerência, como ambos fariam parte do mesmo bloco, a segunda temporada de Homem-Aranha e Seus Amigos, por conseguinte foi necessário que ele dublasse a narração dos episódios reprisados também. Essa nova narração foi adicionada apenas aos episódios exibidos pela NBC, não existindo nos que depois foram vendidos em syndication nem nos lançados em DVD.

No ano seguinte, o nome do bloco, que estrearia em 17 de setembro de 1983, seria invertido, mudando para The Amazing Spider-Man and the Incredible Hulk - talvez para refletir que aconteceu justamente o contrário do ano anterior: enquanto a terceira temporada de Homem-Aranha e Seus Amigos teve oito episódios, a segunda do Hulk teve apenas quatro, com quatro reprises completando o bloco. Na verdade, ao invés de preparar episódios novos, a Marvel apenas finalizaria os que não ficaram prontos a tempo no ano anterior, o que desagradou a NBC, que preferiu reprisar os episódios antigos em 1984 e 1985 ao invés de encomendar novas temporadas. Na contagem geral, Homem-Aranha e Seus Amigos teve 24 episódios e The Incredible Hulk 13, ambos encerrando sua exibição em 5 de novembro de 1983.

E é isso. Comecei querendo falar só sobre The Marvel Super Heroes, acabei falando sobre todos os desenhos Marvel das décadas de 1960, 1970 e 1980. E vou parar por aqui, pois agora vêm os da década de 1990, que são muitos. Não garanto nada, mas quem sabe um dia eu não fale sobre eles também?

Série Desenhos Marvel

Décadas de 1960 a 1980

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